Um aplicativo de voto online utilizado na consulta popular criada pelo ex-deputado Juan Guaidó para questionar as eleições legislativas da Venezuela foi considerado, pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts), vulnerável a falhas que podem comprometer resultados de uma votação.
Em estudo feito pelos pesquisadores Micheal Specter, James Koppel e Daniel Weitzner, publicado neste ano, o Voatz, software norte-americano de votação, é apontado como vulnerável a falhas e ataques “que podem comprometer a integridade da eleição”.
“Nós descobrimos que um invasor com acesso ao aplicativo do eleitor pode facilmente escapar das defesas do sistema, entender as escolhas do usuário e alterar seu voto”, aponta. Ainda de acordo com o documento, foi descoberto que o “protocolo de redes [do Voatz] pode vazar detalhes do usuário”.
O aplicativo norte-americano foi contratado para receber votos em uma consulta convocada por Guaidó. A votação pretende perguntar ao povo se “rechaça ou não” as eleições legislativas realizadas no último domingo (06/12) na Venezuela.
A iniciativa já foi apoiada pelo governo dos EUA e aliados do presidente autoproclamado. Para setores da esquerda venezuelana, o referendo não oficial é visto como mais uma tentativa da oposição de desestabilizar o governo do presidente Nicolás Maduro.
A votação está aberta desde segunda-feira (07/12) e espera receber votos online de venezuelanos dentro do país e no exterior. Na página do Voatz destinada à participação na consulta, o usuário é orientado a informar seus dados pessoais, carregar uma foto de sua carteira de identificação ou passaporte e realizar seu voto.
A votação, que é promovida pelo setor da oposição que se recusou a participar das eleições do último domingo, ainda abre a possibilidade de receber votos online pelo aplicativo Telegram, serviço que está sendo administrado por uma empresa colombiana de tecnologia chamada Assistência Cidadã. Neste sábado, votos presenciais também são esperados.
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Referendo não oficial é visto como mais uma tentativa da oposição de desestabilizar o governo do presidente Nicolás Maduro
Tentativa de invasão
O aplicativo norte-americano, que apresenta sua tecnologia como “segura e avançada” para realizar eleições, foi fundado em 2016 e já foi utilizado por alguns Estados norte-americanos.
Em 2018, cerca de 144 eleitores de West Virginia utilizaram o Voatz para votar nas eleições midterms dos EUA. Entretanto, uma investigação do FBI apontou para uma tentativa de invasão hacker ao aplicativo durante o pleito no Estado.
O fato levantou suspeitas de especialistas por ter ocorrido logo na primeira tentativa de uso de um sistema online em uma eleição em nível federal. Segundo o estudo do MIT, o Voatz “possui vulnerabilidades que permitem diferentes tipos de ataques que podem alterar, interromper ou expor um eleitor, incluindo a possibilidade de ataque que pode acessar um voto secreto”.
A empresa, por sua vez, alega que utiliza um sistema de segurança blockchain, o mesmo utilizado em transações de criptomoedas, que garante um banco de dados descentralizado e, portanto, mais seguro. Porém, para os pesquisadores do MIT, “é improvável que o uso do sistema de blockchain proteja contra ataques ao servidor”.
Governo dos EUA apontou riscos
Em relatório conjunto publicado em maio deste ano, o FBI, a Comissão de Assistência das Eleições, o Instituto Nacional de Padrões e Tecnologia e a Agência de Infraestrutura e Cibersegurança do Departamento de Defesa Nacional dos EUA apontaram que o sistema de depositar o voto através de uma plataforma digital pela internet, semelhante à utilizada pelo Voatz, apresenta “riscos de segurança significativos”.
“[O sistema] cria riscos consideráveis à integridade do voto e aos dados do eleitor – à privacidade do eleitor e à confidencialidade do voto”, aponta o documento.
Segundo o relatório elaborado pelos órgãos do governo norte-americano, “assegurar o envio de votos pela internet e, ao mesmo tempo, garantir a integridade do voto e manter a privacidade do eleitor é difícil, ou praticamente impossível”.