A chanceler alemã, Angela Merkel, deu forte apoio nesta segunda-feira (04/02) ao chefe de governo da Espanha, Mariano Rajoy, acuado por acusações de corrupção contra ele e seu partido, o PP (Partido Popular). Em um encontro bilateral realizado em Berlim, Merkel chegou a afirmar que seguirá uma sugestão do líder espanhol, e que a Alemanha passará a incentivar políticas de fomento ao crescimento da UE (União Europeia), tema que sempre expressou rejeição publicamente, sendo favorável às medidas de austeridade fiscal. “Estou perfeitamente de acordo com ele”, disse Merkel.
Merkel foi enfática ao elogiar o governo espanhol por cumprir com as “reformas estruturais” recomendadas pela Troika (grupo formado por Comissão Europeia, Fundo Monetário Internacional e Banco Central Europeu), que se baseiam em fortes pacotes de contenção fiscal que se traduzem em desemprego e estagnação econômica em muitos países do continente.
Agência Efe
O presidente de governo espanhol, Mariano Rajoy, e a chanceler alemã, Angela Merkel
Os dois líderes europeus se encontraram em Berlim para a XXIV cúpula entre Espanha e Alemanha, que contou com a participação de quatro ministros dos dois países. Os chefes de governo fizeram elogios mútuos um ao outro e disseram que acreditam que seja feito um acordo sobre o próximo orçamento da UE durante o Conselho Europeu desta semana.
A situação gerada pela divulgação na Espanha da contabilidade do ex-tesoureiro do PP Luis Bárcenas, que teria o registro de pagamentos ilegais feitos aos membros da legenda (inclusive Rajoy), ocupou boa parte da entrevista coletiva.
“Estímulo”
Ao descrever como pretende estimular o crescimento europeu, Merkel voltou a adotar o velho discurso: segundo ela, quanto mais dinheiro os alemães tiverem, mais poderão usar para comprar produtos exportados por outros países ou gastar em turismo.
“Essa é nossa contribuição”, explicou, antes de dizer que a Alemanha poderia ter economizado muito mais se não fosse pelo compromisso que tem com o crescimento da Europa em um período especialmente difícil. “Cada um faz sua parte, e nós também fazemos”, disse Merkel. A chanceler rebateu as críticas de que a Alemanha não economiza o suficiente, afirmando que seu país poupa de maneira a não se transformar em um sócio ruim para o bloco.
Desemprego juvenil
A chanceler disse que “o mais triste” da situação econômica espanhola é o desemprego juvenil. Sobre esse assunto, Merkel afirmou que as ministras de Trabalho de ambos os países falaram hoje sobre a possibilidade de mobilidade trabalhista na UE e de melhorar a formação profissional na Espanha.
A líder contou ainda que no Fórum Econômico de Davos, na Suíça, falou sobre o desemprego juvenil na Espanha e disse que as reformas estruturais são indispensáveis para combater este problema.
Por isso, voltou a defender a mobilidade para que os jovens possam encontrar emprego e defendeu que as empresas alemãs na Espanha enfatizem uma formação profissional com o objetivo dos espanhóis terem a oportunidade de aprender e obter um posto de trabalho fixo.
Apoio
Ao falar de Rajoy, Merkel expressou um inabitual apoio: “Tenho a impressão de que todo o governo da Espanha, incluindo o presidente, está trabalhando para reduzir o desemprego, realizar reformas estruturais e devolver à Espanha a força que merece”, disse Merkel.
“Estou convencida de que o governo espanhol e Mariano Rajoy como presidente poderão resolver esses problemas e a Alemanha os apoiará com toda nossa força”, acrescentou a chanceler, ao ser questionada se os escândalos de corrupção que atingem o governo minam sua confiança na liderança do presidente espanhol. Ainda disse ter “grande respeito e admiração” pelas reformas que a Espanha está realizando.
Rajoy, por sua vez, lembrou que o déficit estrutural da Espanha caiu 3,5% em 2012.
Defesa
Rajoy voltou a dizer que as acusações de corrupção contra ele e os membros de seu partido são “absolutamente falsas”. “Tudo o que se refere a mim e (…) aos companheiros do meu partido não está correto, exceto alguma coisa”, disse, ao reconhecer parte das ilegalidades, como já fez o partido.
“As opiniões são livres, mas, como manifestei no sábado (02), as coisas de que me acusam são falsas, já disse isso e reitero hoje”, afirmou. Ele já havia alegado inocência à imprensa em coletiva realizada em Madri.
Rajoy afirmou em Berlim que tem “a mesma gana, a mesma coragem, a mesma determinação que tinha quando cheguei à presidência do governo” há pouco mais de um ano “para superar uma das situações mais difíceis que a Espanha viveu nos últimos 30 anos”.
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Ao ser questionado se o partido vai responder a estas acusações, o presidente disse que “colocou (os documentos) em mãos de seus advogados” e “tomaremos as decisões que nós acreditarmos que sejam as boas para defender a honra das pessoas que aparecem citadas nesses papéis e do PP”.
O presidente do Executivo também afirmou que o governo é estável, que o PP conta com uma maioria parlamentar absoluta e que vai continuar trabalhando para conseguir “crescimento econômico” e “geração de empregos”.
Mercados em baixa
Enquanto isso, os mercados reagiram com desconfiança a este nova frente que se abre na já delicada situação econômica espanhola.
A Bolsa de Madri perdeu 3,77%, o rendimento do bônus de dívida espanhola a dez anos no mercado secundário subia ao 5,438% de 5,208% e o número de desempregados aumentou em 132.000 pessoas em janeiro em um país onde mais de 26% da população ativa está desempregada.
Caso Bárcenas
O nome do presidente espanhol aparece em documentos que o jornal El Pais atribuiu ao ex-tesoureiro e ex-senador do PP Luis Bárcenas e que conteria anotações de um esquema de financiamento ilegal do partido. Segundo a denúncia, Rajoy ganhou um salário extraoficial do PP durante 11 anos.
Segundo os documentos, Bárcenas manteve até 2009 uma conta na Suíça que, entre os anos de 2005 e 2009, teve um saldo médio de 15 milhões de euros. Segundo o juiz espanhol Pablo Ruz, a conta alcançou 22 milhões de euros em 2007.
O ex-tesoureiro regularizou no ano passado 10 milhões de euros provenientes de suas contas na Suíça. O advogado de Bárcenas afirmou no dia 18 de janeiro que o político aproveitou o período de anistia fiscal aprovada pelo governo Rajoy. O indulto fiscal vigorou entre 31 de março e 30 de novembro de 2012 e permitia que os espanhóis legalizassem os seus bens ocultos ao fisco pagando 10% ao Estado, quantidade que representa menos da metade dos impostos que deveriam pagar pelo processo regular.
Além das denúncias reveladas na última quinta-feira (31/01), outro nome de grande peso do atual governo foi implicado um dia depois em um caso de corrupção. A ministra da Saúde, Ana Mato, e o seu ex-marido, Jesús Sepúlveda, ex-prefeito de uma cidade na província de Madri, foram acusados pelo juiz Pablo Ruz de envolvimento no caso Gürtel, rede de corrupção vinculada a altos funcionários do PP que afetou políticos das comunidades de Valência, Madri e Castilha e León.
Segundo o informe divulgado pelo juiz, o casal recebeu dinheiro, passagens de avião e artigos de luxo de empresas e indivíduos que participavam da trama. As diversas denúncias de corrupção levaram dois políticos a deixarem o partido nesta sexta-feira. Eduardo Junquera, do PP da região de Astúrias, e David Pasarin-Gegunde, do PP basco, anunciaram em coletivas de imprensa que iriam abandonar a legenda.