Uma caminhada na última terça-feira (23) pelo centro de Hebron (ou Al-Khalil, em árabe), nos limites que dividem H1 (área oficialmente palestina) e H2 (israelense), parece revelar o retorno do cotidiano normal desta cidade – pelo menos do que pode ser considerado normal por aqui. Mas o entardecer traz uma nova onda dos protestos que começaram na manhã de segunda. Grupos de jovens palestinos têm como alvo os postos de controle israelenses dentro de H2, onde vivem cerca de 40 mil palestinos e cerca de 500 colonos israelenses.
Por volta das 16h (11h de Brasília), começam a atirar pedras, algumas delas arrancadas da arquitetura da cidade. Em troca, são atacados com bombas de gás lacrimogêneo e de efeito sonoro. Fogem, como numa brincadeira de criança – o que a maioria deles ainda é – para depois voltar e começar tudo de novo. Nessa dança de protestos, um surpreendente final: a Força Especial Palestina entra em cena para controlar os palestinos. Trabalha em coordenação com os israelenses na supressão de uma escalada dos protestos. Algo mudou na história do conflito.
Fotos: Abed Al Hashlamoun/EFE
No alto, palestinos lançam pedras; acima, soldado israelense atira bomba de gás lacrimogêneo
No dia anterior, quem chegasse a Hebron pela manhã notaria as lojas fechadas. Era a greve geral de lojistas coordenada por um conjunto de forças políticas lideradas pelo próprio Fatah, como explicou ao Opera Mundi o departamento de imprensa do movimento. A luta é contra a nova “caminhada de al-Aqsa”.
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O famoso passeio de Ariel Sharon, em 2000, pela Esplanada da Mesquita de al-Aqsa, em Jerusalém, foi a provocação final dentro do fracassado processo de paz dos Acordos de Oslo. Na ocasião, fez explodir uma onda de protestos por toda a Palestina, dando início à Segunda Intifada. As recentes declarações de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel, não parecem ter levantado menos os ânimos dos palestinos.
No último domingo, Netanyahu anunciou a inclusão de dois locais religiosos, ambos dentro dos Territórios Palestinos definidos pela fronteira de 67, à lista de heranças históricas de Israel. A mesquita de Abraão, em Hebron, e a Tumba de Rachel, em Belém, serão objetos de reforma e promoção do Estado.
O premiê disse na ocasião, segundo o diário Haaretz, que “nossa existência depende não apenas da FDI (Forças de Defesa de Israel, o exército) ou de nossa resiliência econômica. Está ancorada no sentimento nacional que nós legaremos às gerações vindouras e em nossa habilidade em justificar nossa conexão a esta terra”. Ainda de acordo com o Haaretz, Netanyahu teria sido persuadido a incluir os dois locais à lista “a pedido do partido religioso de direita Shas”.
Provocação
Mustafá Barghouti, secretário-geral da Iniciativa Nacional Palestina, disse ao Opera Mundi que “a anexação e apropriação de sítios sagrados para os muçulmanos em Hebron foi um ato de provocação” mais grave do que a caminhada de Sharon em 2000. “Devemos fazer resistência não-violenta em massa, desobediência civil contra Israel, como fizemos hoje (segunda). Devemos pedir sanções a Israel. Não acho que países como o Brasil, que respeitam os direitos humanos e sofreram com problemas de colonização, deveriam ter relações normais com Israel”. Barghouti despede-se e volta a Ramallah, a capital palestina que pode ser considerada um oásis dentro dos territórios ocupados.
Netanyahu jogou mais combustível na já explosiva Hebron. Os protestos prometem se alastrar esta semana. Quinta-feira, completam-se 16 anos do Massacre Goldstein e do conseqüente fechamento da rua Shuhada aos palestinos, que não podem desde então andar por aquele que já foi o efervescente acesso ao mercado velho de Hebron. Desde que foi fechada, Al-Khalil virou uma cidade fantasma. Manifestações pela sua reabertura estão marcadas para quinta.
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