Com a vitória do AKP (Partido da Justiça e do Desenvolvimento) em Istambul e Ancara, as duas maiores cidades da Turquia, nas eleições deste domingo (30/03), o primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, prometeu nessa segunda (31) que seus inimigos “vão pagar o preço”.
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Falando de uma sacada na sede do AKP ao final das eleições municipais, que acabaram por se tornar uma consulta sobre a popularidade de seu governo, Erdogan chamou seus inimigos na política e no Estado de “traidores”, “terroristas” e “uma aliança do mal”.
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“Vamos entrar no covil deles”, afirmou o primeiro-ministro. “Eles serão responsabilizados. Como podem ameaçar a segurança nacional? A partir de amanhã, pode haver alguns que fujam”, ameaçou, dizendo ainda que “a velha Turquia acabou. A nova Turquia está aqui”.
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Para o principal partido de oposição, o CHP (Partido Republicano do Povo), Erdogan está “ameaçando a sociedade”. “Isto mostra que o seu estado mental não é de confiança, estas ameaças óbvias não são aceitáveis”, disse Gursel Tekin, vice-presidente da formação, que foi a segunda colocada nas eleições. O líder do terceiro colocado, MHP (Movimento Nacional), Devlet Bahçeli, também criticou o discurso de Erdogan, dizendo que “nada será como antes. O primeiro-ministro escolheu a via da divisão”.
Agência Efe
Recep Tayyip Erdogan (no centro) comemora vitória de seu partido nas eleições municipais deste domingo (30/03)
O período das eleições municipais foi particularmente turbulento para Erdogan, em seus 12 anos à frente do governo da Turquia. Em dezembro, quatro de seus ministros renunciaram depois que uma investigação apresentou provas concretas de corrupção entre as maiores autoridades turcas.
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No final da campanha para as eleições, a crise se agravou, quando a gravação de uma conversa entre responsáveis de segurança que discutiam uma possível intervenção na Síria foi publicada no Youtube. O governo, que já havia proibido o uso do microblog Twitter, também tornou ilegal o uso do site de partilha de vídeos.
A campanha eleitoral foi permeada por uma disputa particular entre Erdogan e o clérigo Fethullah Gulen, apoiado pelos EUA, a quem o primeiro-ministro acusa de usar uma rede de seguidores na polícia e no Judiciário para atacá-lo.
Depois da vitória do AKP, com mais de 45% dos votos, Erdogan sente-se vingado. “Estes resultados mostram quem ganhou, mostram quem perdeu. A política imoral perdeu. A política baseada em gravações falsas perdeu”. O primeiro-ministro disse também que “através das urnas, o povo mandou uma mensagem para a Turquia e para o mundo”. “Estamos aqui. Vocês não vão iludir o povo turco. Nós possuímos esse país”, concluiu.
Ontem, tanto o AKP quanto o CHP declararam ser vitoriosos nas eleições, quando 50% das urnas haviam sido apuradas. Em respeito aos rumores de que o CHP exigiria uma recontagem em Ancara, o líder do partido, Kemal Kılıçdaroğlu, afirmou que “o resultado não deve ser visto como uma fraude”, negando também que renunciaria por causa da derrota, segundo o jornal Good Morning Turkey.
Erdogan não esconde sua ambição de se tornar o primeiro presidente eleito da Turquia, na eleição que será realizada em agosto. Apesar da influência de Gulen, as autoridades próximas a ele não consideram que haverá algum obstáculo em seu caminho rumo à Presidência.