Fotos:Martin Alipaz/EFE
Bolivianos celebram vitória de Evo, com 63% dos votos, segundo a boca-de-urna
A festa da vitória na noite de domingo não chegou a ser majestosa. A pequena praça Murillo, em frente ao palácio do governo em La Paz, não ficou totalmente lotada, embora alguns milhares de apoiadores do presidente reeleito Evo Morales tenham comparecido. Do balcão do Palacio Quemado, sede do governo, as palavras também foram comedidas.
Evo fez um discurso moderado, ao lado do vice-presidente Alvaro Garcia Linera e alguns ministros. Dirigindo-se a “empresários, intelectuais e governantes” da oposição, pediu que trabalhem pelo povo boliviano, “à margem de qualquer reivindicação de caráter regional”. “Primero vem a Bolivia e devemos nos unir”, declarou. Também prometeu que seu segundo mandato será um “governo de diálogo”.
Ao fundo, um grupo andino tocava uma música de saudação ao Tawantinsuyu, o império inca. Mas o presidente reeleito não reforçou o tema indígena nem adotou o característico tom confrontativo. Preferiu saudar o fato de que a classe média e as populações urbanas demonstraram apoio ao MAS. “Diziam que a classe média tinha abandonado o presidente. Falso. Aí está a classe média”.
Segundo a pesquisa de boca-de-urna do Instituto Equipos Mori, o primeiro indígena a chegar ao poder no país, da etnia aymará, foi reeleito com 63% dos votos, contra 27% do segundo colocado, Manfred Reyes Villa, do Plano Progresso para a Bolívia-Convergência Nacional (PPB-CN). Evo venceu em seis estados – La Paz (78%), Cochabamba (66%), Oruro (78%), Potosí (77%), Chuquisaca (53%) e Tarija (49%). Alé disso, obteve maioria absoluta (mais de 2/3) no Senado e na Câmara.
Nas duas últimas, havia perdido na primeira eleição, em 2005. Em Santa Cruz, Beni e Pando, voltou a ser derrotado, mas por pequena margem. A votação de Evo supera em muito os 53,7% obtidos no pleito anterior, quando chegou à presidência. Ele assumirá o novo mandato no dia 22 de janeiro e governará até 2015.
Para Evo, o avanço signfica que o povo boliviano quer unidade em trono do seu projeto. “Os resultados destas eleições marcarão outra fase país porque deixará de existir a denominada meia-lua para converter-se em uma lua cheia de unidade nacional entre todos os bolivianos”, disse à imprensa local, referindo-se à região oriental do país, que lhe fez oposição durante o primeiro mandato.
Segundo a Corte Nacional Eleitoral, até terça-feira cerca de 80% dos votos estarão apurados. A delegação de observadores do Mercosul destacou a alta participação, a transparência e a segurança do processo eleitoral boliviano. Os observadores da OEA (Organização dos Estados Americanos) e da União Europeia também elogiaram.
Evo e o vice Linera cantam o Hino Nacional no balcão do Palacio Quemado
Mudança
O MAS procurou obter maioria absoluta nas duas câmaras legislativas para poder implementar a Constituição aprovada este ano, que promete “refundar” o país ao institutir o Estado Plurinacional Boliviano. “Agora temos a enorme responsabilidade de aprofundar, de acelerar este processo de mudança. O fato de obtermos mais de 2/3 nas câmaras de deputados e senadores me obriga a acelerar este processo de mudança”, disse o presidente boliviano.
E isso será feito já no próximo ano, quando haverá eleições para prefeitos e governadores, em que o MAS pretende tomar o poder em locais governados pela enfraquecida oposição. “Termina essa campanha, mas começa agora a campanha para prefeitos e governadores”, disse Evo ao encerrar sua campanha na última quinta-feira (3).
Além disso, ao votar na região cocaceira de Chaparre, da Bolívia, o presidente deu a entender que pode buscar uma nova reeleição em 2015. “Agora se vota com base na nova Constituição, e é a primeira eleição de Evo Morales “, disse ele.
Reconhecimento
Os principais opositores de Evo reconheceram a derrota e prometeram desempenhar uma oposição construtiva e responsável com os bolivianos que os apoiaram.
Reyes Villa agradeceu aos bolivianos que apoiaram “uma visão de país que quer recuperar a república e fortalecer o estado de direito”. “Foi uma batalha dura contra a mentira, a perseguição política”, disse em referência à campanha eleitoral.
O candidato prometeu que seu partido será “a trincheira do equilibro da democracia” e assegurou que os deputados de seu partido serão uma “oposição construtiva”. “Vamos continuar lutando pela democracia, pelo país, e por todos os que apostaram por isso”, acrescentou.
Ele atribuiu o resultado adverso à continuidade da polarização política e à fragmentação de uma oposição que não entendeu a necessidade de unidade, permitindo que os interesses pessoais prevalecessem.
Reconhecendo a derrota de antemão, o candidato a vice-presidente pelo PPB, Leopoldo Fernández, pediu na manhã de domingo que Evo “não perca a oportunidade de fazer possível o reencontro dos bolivianos”. Ex-governador de Pando e um dos mais aguerridos opositores, Fernandez deu a declaração enquanto votava na prisão onde está desde o fim do ano passado, acusado por um massacre.
No fim da tarde de domingo, o candidato presidencial de centro-direita Samuel Doria Medina, líder do partido Unidade Nacional, afirmou: “Reconhecemos a decisão do povo boliviano. Está claro, o povo decidiu dar outra oportunidade a Evo Morales”.
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