O chanceler da Venezuela, Jorge Arreaza, disse nesta terça-feira (29/06), em entrevista a jornalistas da mídia independente em uma live promovida pela CUT (Central Única dos Trabalhadores), que a OEA (Organização dos Estados Americanos) e o Grupo de Lima – formado por países de direita da América Latina – atrapalharam uma resposta conjunta dos países contra a covid-19.
“A OEA e o Grupo de Lima jogaram contra a possibilidade de uma resposta conjunta dos países da América Latina contra a pandemia. Sobre a Venezuela, eles ajudaram na tentativa de nos asfixiar, de nos excluir dos programas de solidariedade. Eles apostaram em produzir aqui um cenário de catástrofe, como o que ocorreu nos Estados Unidos e ainda ocorre no Brasil”, disse.
Para o chanceler venezuelano, “se os governos de direita não tivessem enfraquecido entidades como Unasul e CELAC, creio que poderíamos ter uma resposta conjunta muito melhor à pandemia, e talvez toda a região teria enfrentado melhor a pandemia do que o que temos feito até agora”.
“No caso venezuelano, a OEA, e especialmente o seu secretário-geral, que eu chamo de sicário-geral (‘jagunço-geral’ em português), se pudesse evitar que a Venezuela recebesse insumos, medicamentos e vacinas, certamente eles estariam felizes (…) Conseguimos superar isso graças à ajuda de países como a China e principalmente Cuba”, afirmou
Campanha
O objetivo da live com a entrevista com Arreaza foi lançar a campanha de arrecadação de recursos promovida pela CUT para a manutenção de fábrica da usina de oxigênio hospitalar da Venezuela. O evento contou com perguntas de Opera Mundi e de diversos meios da imprensa alternativa brasileira.
A iniciativa da CUT tem como objetivo retribuir o gesto do governo venezuelano, que doou cerca de 130 mil litros de oxigênio aos estados de Amazonas e Roraima em meados de janeiro de 2021, quando a região enfrentava o pior momento da crise deste insumo devido ao colapso dos hospitais pela segunda onda da pandemia, e também pela omissão do governo de Jair Bolsonaro com respeito àquela situação.
Arreaza foi designado pelo presidente Nicolás Maduro para ser o responsável pela coordenação do envio da ajuda diretamente com os Estados de Amazonas e Roraima.
Instituto Simón Bolívar
Arreaza foi o convidado do lançamento de uma campanha de solidariedade para com a Venezuela, promovida pela CUT
Além do oxigênio, o governo venezuelano enviou 107 médicos venezuelanos e brasileiros, formados pela Escola Latino-Americana de Medicina Salvador Allende, em Caracas, que passaram semanas ajudando no tratamento de pacientes com covid-19 durante o pior momento da pandemia no Estado do Amazonas. Nenhum desses gestos de solidariedade teve qualquer tipo de reconhecimento ou agradecimento por parte do governo brasileiro.
Sobre essa situação, Arreaza afirmou que espera que, no futuro, as relações entre Brasil e Venezuela possam ser como eram em um passado não muito distante. “Sabemos que não contamos com a simpatia do Itamaraty. A postura do governo federal de Brasil parece um pouco primitiva, mas caso essa abertura ocorra um dia, ela certamente contará com toda a nossa colaboração para o desenvolvimento em conjunto, como ocorreu em projetos que tivemos em comum no passado, graças ao presidente Chávez e ao presidente Lula”, afirmou.
Solidariedade entre trabalhadores
Os cilindros de oxigênio enviados pela Venezuela em janeiro foram produzidos pela Sidor (Siderúrgica de Orinoco), a mesma planta para a qual esta campanha de arrecadação de fundos está destinada.
O chanceler Arreaza destaca que “aquele foi um gesto que partiu principalmente dos trabalhadores. O presidente Maduro deu a ordem, mas a classe trabalhadora venezuelana foi a que preparou o caminhão e trabalhou pensando em salvar as vidas dos irmãos trabalhadores de Manaus”
Na véspera do evento de lançamento, o presidente nacional da CUT, Sérgio Nobre, afirmou “é importante retribuir a solidariedade dos trabalhadores da Venezuela”.
“A CUT tem tomado iniciativas para ampliar a aproximação com o movimento sindical da América Latina, diante do distanciamento que o Brasil impõe a maioria dos países da região, incluindo o sindicalismo e demais movimentos progressistas. A luta sindical e popular, cada vez mais globalizada, exige ainda mais unidade e integração internacional”, completou Nobre.
Bloqueio
O chanceler também falou sobre os bloqueios impostos pelos EUA contra Caracas. Segundo ele, elas provocaram uma queda de 99% na renda nacional da Venezuela.
“Nós deveríamos produzir 3 milhões de barris de petróleo por ano, e atualmente só alcançamos um terço disso. Além disso, desde o final de 2019 e durante todo o ano de 2020, não pudemos vender sequer um barril”.
Atualmente, a Venezuela sofre com mais de 150 sanções econômicas, a maioria delas imposta pelo governo dos Estados Unidos. “Mais que um bloqueio, é uma perseguição financeira, qualquer instituição que tenta fazer negócios conosco é ameaçada e intimidada por organismos estadunidenses”.
Arreaza também contou que os trabalhadores da PDVSA (estatal petroleira venezuelana) tiveram que aprender a construir peças específicas para realizar a manutenção das fábricas e refinarias do país. “São peças que só podem ser compradas em países que não fazem negócio conosco, nos Estados Unidos e na União Europeia. Nossos trabalhadores se dedicaram a isso, com seus tornos e fundições, com os quais conseguimos algumas peças e assim, pouco a pouco, nós aprendemos a superar essas dificuldades”.