As primeiras investigações sobre o atentado terrorista desta segunda-feira (24/01) ao aeroporto de Domodedovo, em Moscou, apontam que a explosão foi planejada e executada por guerrilheiros da região do Norte do Cáucaso, grupo acusado pelo assassinato de mais de 1.200 pessoas nos últimos 15 anos.
“O atentado foi cometido de acordo com a técnica habitual utilizada pelos (grupos) oriundos do Norte do Cáucaso “, indicou uma fonte policial citada pela agência oficial russa Ria Novosti. “A explosão ocorreu no local no momento em que a suposta terrorista abriu sua bolsa. A terrorista estava acompanhada por um homem, que estava a seu lado e foi decapitado pela detonação.”
O Norte do Cáucaso é alvo e foco de violência desde o início do século XVIII, quando tropas imperiais do czar Pedro I, o Grande, invadiram o território com o objetivo de anexá-lo ao Império russo. Foram 150 anos de disputas até a consolidação russa sobre a região do Cáucaso.
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Com a Revolução Bolchevique de 1917, esperanças de independência outra vez tomaram conta do imaginário caucásico, mas as promessas de maior autonomia não foram cumpridas. A desintegração da URSS marcou a retomada de uma velha luta pela independência. As repúblicas do Norte do Cáucaso reinvindicavam uma condição semelhante a das ex-repúblicas da mesma região – Armênia, Geórgia e Azerbaijão, soberanas desde 1991.
A nova etapa da luta caucásica começou com as aspirações independentistas da república da Tchetchênia. O governo do então presidente Boris Yeltsin respondeu com violência, mas mesmo assim o Golias russo foi derrotado pelo pequeno David tchetcheno numa guerra sangrenta que durou de 1994 a 1996. Em 1997, a Tchetchênia realizou eleições democráticas, mas o regime de Aslan Maskhadov não conseguiu unir esta sociedade multiétnica.
Dois anos mais tarde, o primeiro-ministro russo, Vladimir Putin, ordenou que o Exército ocupasse zonas fronteiriças da Tchetchênia, alegando que era uma maneira de evitar a invasão tchetchena ao vizinho Daguestão. Começava a Segunda Guerra da Tchetchênia. O Kremlin conseguiu controlar os separatistas e impos um regime leal à Rússia, encabeçado pelo atual presidente tchetcheno, Ramzan Kadirov. Em 2009, Putin declara que a guerra havia terminado.
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A região do Caucaso, comumente chamada de “o estrangeiro próximo”, é uma área fundamental para a política geoestratégica russa e seu poder de influência na Ásia Central, alem de representar o acesso aos abundantes recursos naturais da região do Mar Cáspio.
O problema do Cáucaso é endógeno, de inspiração interna, diferentemente dos movimentos islamistas em evidência desde os atentados às Torres Gêmeas, em setembro de 2001. A política nacionalista do primeiro-ministro Putin e a tentativa de criar uma ideia de nação russa homogênea, aliadas à pobreza e ao desemprego na região do Norte do Cáucaso, se transformaram num terreno fértil para que a luta pela independência se transformasse num movimento fundamentalista e que a região da Ingushetia, Kabardino-Balkaria, Karachaievo-Cherkesia, Daguestão e Tchetchência se convertessem num barril de pólvora e no principal problema interno da Federação Russa.
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