Victor Farinelli/Opera Mundi
Placas devem ser alteradas na capital chilena até o final do mês de julho
No coração da classe média santiaguina, decorada por pequenas galerias comerciais, edifícios de consultórios médicos e pequenos locais de comida rápida, reluzia o último bastião do orgulho pinochetista no Chile: a Avenida 11 de Septiembre, cujo nome celebrava o golpe de estado liderado por Augusto Pinochet, em 1973.
A ditadura terminou há 25 anos, mas somente nesta terça-feira (02/07) o Conselho Municipal da comuna de Providencia (na Zona Norte de Santiago, capital do país) aprovou a mudança de nome do endereço, que voltará a se chamar Avenida Nueva Providencia, como era originalmente.
A medida foi uma das principais promessas de campanha da prefeita Josefa Errázuriz, que assumiu em dezembro e garantiu que acabaria com a apologia da ditadura no município. Antes de sua chegada, a comuna de Providencia foi governada pelo Coronel Cristián Labbé, ex-guarda-costas pessoal de Pinochet, que chegou à prefeitura em 1993 e se manteve por cinco mandatos consecutivos (não há limite de reeleições para prefeitos no Chile).
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Além de manter o nome da avenida, Labbé costumava usar o espaço da prefeitura para promover homenagens a Pinochet e outros militares pertencentes à junta militar – entre eles alguns que estão cumprindo prisão perpétua por crimes contra os direitos humanos.
Ao final da sessão do Conselho Municipal na qual a mudança foi aprovada por 4 votos a 1, houve um pequeno confronto verbal entre representantes de organizações de direitos humanos e grupos de simpatizantes da ditadura, que foi rapidamente controlado pela segurança. Depois de acalmados os ânimos, Errázuriz declarou, em entrevista coletiva, que a mudança nas placas ocorrerá ainda este mês. “Conseguimos tirar essa mancha de uma das principais vias da nossa cidade e a fizemos voltar a ser uma avenida de um país democrático”.
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A Avenida Nueva Providencia foi rebatizada como Avenida 11 de Septiembre durante a ditadura, pelo então prefeito Alfredo Alcaíno, por meio do decreto nº 500, de 29 de setembro de 1980, no qual é possível ler o seguinte trecho: “Considerando a grande façanha do dia 11 de Setembro de 1973, que livrou o país da opressão marxista, encabeçada por um bêbado marxista e suicida (Salvador Allende, o presidente deposto durante o golpe) com a ajuda de 40 mil guerrilheiros cubanos, segundo o Plano Z, decretamos que esta deve ser recordada pelas gerações presentes e futuras em uma obra urbanística de grande relevância”.
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Maya Fernández, neta de Allende, foi uma das personalidades presentes na sessão do Conselho Municipal de Providencia. Entre lágrimas e abraços de amigos, a jovem bióloga disse que “é tão maravilhoso o que aconteceu que o nome de ‘Nueva Providencia’ já ficou pequeno, a avenida deveria se chamar ‘Nuevo Chile’”. Outra figura relevante que esteve presente foi a bailarina inglesa Joan Turner, viúva do cantor Víctor Jara, uma das primeiras e mais recordadas vítimas da ditadura chilena.
Por sua parte, o grupo de pinochetistas presentes no evento, que foi retirado do local após a votação, promete atuar contra a decisão. Juan González, ex-militar e presidente da Corporação 11 de Setembro, afirmou que já está preparando uma série de medidas, que vão desde uma liminar na Corte Suprema de Justiça para impedir a alteração até a exigência da mudança de nome de todas as ruas e avenidas que levam o nome de Salvador Allende, em represália. “Não vamos permitir que a versão marxista da história se imponha sobre a verdade e apague da memória do país a proeza daqueles que o salvaram”, explicou.