A recessão da economia britânica, que “chocou” analistas pela extensão e profundidade, acabou camuflada pela Olimpíada de Londres, que começa nesta sexta-feira (27/07). A oposição Trabalhista terá essas duas semanas de Jogos para buscar munição na tentativa de desbancar o premiê conservador David Cameron. Quem despontou como voluntário, para surpresa dos britânicos, foi o ex-primeiro-ministro Tony Blair.
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Na última semana, Blair virou editor convidado do jornal London Evening Standard, deu entrevistas para BBC, Financial Times e Daily Telegraph. O ex-premiê trabalhista ainda participou de um jantar com o atual líder do partido, Ed Miliband, e de um encontro com o arcebispo de Canterbury. Coreografia de candidato, como analisou o articulista Simon Jenkins, do jornal The Guardian.
Blair foi primeiro-ministro por 10 anos, de 1997 a 2007. Foi a única vez que um trabalhista conseguiu dois mandatos seguidos na história do Reino Unido. Foi também o mais jovem premiê da história, eleito com apenas 43 anos, e renovou a imagem do partido com a alcunha de Novos Trabalhistas, advogando por um neo-socialismo com menos intervenção do Estado. Mas currículo não é popularidade.
Ao mesmo tempo em que Blair mostrava seus dotes, dizendo que tinha “desejo de se reengajar na política britânica” e que “a experiência faz um melhor primeiro-ministro”, os sinais de rejeição começaram a aparecer. Uma pesquisa realizada pelo The Guardian em conjunto com o instuto ICM mostrou que, caso Blair volte a ser líder do Partido Trabalhista, ele derruba as intenções de voto em três pontos percentuais.
O número foi como um balde de água fria no ex-premiê. Especialmente porque, com os reflexos da recessão da economia britânica, o Partido Trabalhista conseguiu estabelecer uma liderança sólida de cinco pontos percentuais sobre os Conservadores.
Segundo a pesquisa, com Blair os trabalhistas terão 36% dos votos. Com Ed Miliband, o número sobe para 39%. Cada ponto é crucial, já que a coalizão entre conservadores e liberais democratas somam 49% das intenções de voto, mas vem em queda vertiginosa de confiança.
Guerra e mais
O ressurgimento de Blair fez reviver nos britânicos uma aliança nada confortável dos trabalhistas com o ex-presidente dos Estados Unidos, George W. Bush. Em 2003, Blair e Bush enviaram tropas ao Iraque para depor Saddam Hussein e combater o terrorismo. O fiasco levou à derrota de Bush e, consequentemente, à derrocada do então premiê.
Seus laços com o barão da imprensa Rupert Murdoch também sempre foram visíveis. Blair tornou-se uma espécie de queridinho de Murdoch, que usou seus jornais em favor do trabalhista por considerá-lo dono de “boas ideias”. A imagem do jovem premiê vendia até o divórcio entre os dois. Recentemente, ele depôs no inquérito que apura crimes de Murdoch e disse que atuou deliberadamente para “ganhar” o magnata da mídia.
Hoje, Blair recebe 2 milhões de libras esterlinas como consultor do banco JP Morgan, segundo reportagem do jornal Daily Telegraph. Ele também é conselheiro do presidente do Cazaquistão, Nursultan Nazarbayev, e apareceu recentemente em um vídeo promocional do país elogiando seu “progresso”.