O teólogo brasileiro Leonardo Boff comentou, através de sua conta no microblog Twitter, a renúncia do papa Bento XVI, anunciada na manhã desta segunda-feira (11/02). Boff é uma das principais vozes da Teologia da Libertação no Brasil, doutrina católica que defende a intervenção social dos católicos, e teve problemas com o então Joseph Ratzinger no passado, que acabaram por resultar em sua saída do brasileiro da Igreja Católica.
Apesar de expressar preocupação com a possibilidade de que Bento XVI acabe influenciando a escolha de seu sucessor da corrente da “linha dura, como ele, o que aprofunda a crise da Igreja”, Boff elogiou a atitude do pontífice em deixar o cargo por sentir que não tinha mais condições físicas para exercê-lo. “A renúncia do Papa é um ato de razoabilidade. Humildemente deu-se conta dos limites da natureza que o impediam de exercer sua função. Foi digno”.
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No entanto, classificou o como um pontífice “controverso”. “Bento XVI teve dois pesos e duas medidas. Tratava com luvas de pelica os reacionários seguidores de Lefebvre [movimento conservador católico que contesta mudanças do Concílio Vaticano II] e nós, da [Teologia da] Libertação, a bastonadas”, afirmou.
Ele não pareceu ter sido pego de surpresa com o anúncio, pois já ouvia rumores sobre a possibilidade de renúncia: “O Papa havia acenado que poderia renunciar. Tem forte artrite nos joelhos e fêmur e sentia que a cabeça já não funcionava bem”.
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Boff tem respondido durante todo o dia a uma série de perguntas feitas por seus seguidores no microblog. Classificou o pontificado como “controverso”, por tentar “interpretar” o Vaticano “à luz da autoridade do Papa e não da Igreja do Povo de Deus”. “Inegavelmente colocou o acento no reforço da Igreja hierárquica. Opção básica: reenvagelizar a Europa. Para nós significa: optar pelos ricos”.
Entre os possíveis candidatos a assumir o cargo, Boff apontou Óscar Madariaga, de Honduras, como o seu preferido.
Boff admitiu ainda ter aprendido com Ratzinger, a quem classificou como “teólogo brilhante”, “aprendi muito dele quando tínhamos amizade. Mas não trouxe nenhuma “novidade” para a teologia”.
Histórico
Em 1984, Boff foi condenado a um ano de “silêncio obsequioso” e deposto de suas funções ligadas ao ensino religioso, em razão dos questionamentos feitos à hierarquia católica no livro “Igreja: Carisma e Poder”.
O processo que levou à sua condenação foi realizado pela Congregação para a Doutrina da Fé, então sob a direção de Ratzinger, que foi muito próximo a Boff e aos demais defensores da Teologia da Libertação durante a década de 1970, se afastando em seguida.
A pena foi suspensa em 1986. No entanto, seis anos mais tarde, perante uma nova ameaça de punição feita por Roma, Boff preferiu renunciou às suas atividades de padre e desligou-se da Ordem Franciscana. Atualmente é professor de Ética, Filosofia da Religião e Ecologia da Uerj (Universidade Estadual do Rio de Janeiro).
(*) com informações do site Esquerda.net