Como parte da estratégia para seguir pela via do desenvolvimentismo e reduzir seu histórico déficit de infraestrutura, a África vai criar, com a ajuda do Brasil, um fundo de financiamento através do BNDES (Banco nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) e o BAfD (Banco Africano de Desenvolvimento). O anúncio foi feito nesta quinta-feira por Luciano Coutinho, presidente da instituição de fomento brasileira no seminário “Investindo na África: oportunidades, desafios e instrumentos para cooperação econômica”.
Divulgação/BNDES
Criação do Fundo foi anunciada durante seminário no Rio de Janeiro
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“Há um déficit de funding de 30 a 40 bilhões de dólares por ano para apoiar a carteira de cerca de 50 projetos que precisam ser desenvolvidos. O Banco Africano de Desenvolvimento tem que aumentar a sua escala de capitalização”, destacou Coutinho. Segundo ele, a cooperação não deve se firmar apenas entre bancos públicos, mas também entre bancos privados no mercado de capitais.
Além do anúncio, o evento tratou de discutir medidas para reduzir o déficit estrutural no continente. Para aumentar a competitividade no mercado mundial, a África precisa receber, até 2020, 68 bilhões de dólares, mantendo uma média de 7,5 bilhões de dólares de investimentos por ano. Este cálculo é previsto no plano de ação prioritário de 2012 a 2020 no PIDA (Programa para Desenvolvimento das Infraestruturas em África).
Entre os meios para alcançar esse objetivo estão interligar o continente nos setores de transportes, energia, telecomunicações e gestão de recursos naturais, além da tradicional luta pela segurança alimentar.
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O PIDA estabelece quatro setores prioritários no continente que devem receber recursos para desenvolver-se até 2020. Só o setor energético precisará de 40,3 bilhões de dólares em investimentos; o de transportes, 25,4 bilhões de dólares; gestão de recursos hídricos, 1,7 bilhão de dólares; e Tecnologias da Informação e Comunicação TIC) 0,5 bilhão de dólares.
A África Oriental será a região que mais demandará investimentos, 23.3 bilhões de dólares; seguido da África Central, 21.5 bilhões de dólares; África do Sul, 12.6 bilhões de dólares; África Ocidental, 6.2 bilhões de dólares; e a região continental e do Norte da África juntos somam 4,3 bilhões de dólares.
Somente a demanda energética terá de passar de 590 terawatt/horas em 2010, para mais de 3.100 terawatt/h em 2040, um crescimento anual médio de cerca de 6%. Para acompanhar este ritmo, a capacidade de geração de energia terá que alcançar 700 gigawatts em 2040, contra os atuais 125 gigawatts, garantindo o acesso a mais 800 milhões de pessoas a energia elétrica no continente.
As metas de desenvolvimento e inclusão são volumosas e ambiciosas. O continente está “open for business”, admitiu Carlos Lopes, secretário-geral adjunto da ONU e representante da Comissão Econômica para a África.
Só em 2013, metade da atual população africana de dois bilhões de pessoas estará vivendo nas cidades. E, em 2050, a projeção é que esta mesma cifra de dois bilhões de africanos esteja vivendo em centros urbanos.
“Se olharmos para o crescimento de países que estavam em guerra na África como Líbia e Serra Leoa, estes apresentam taxas de crescimento do seu PIB (Produto Interno Bruto) de 76% e 35%, respectivamente. Congo, Angola e Moçambique também tem taxas de crescimento que atingem dois dígitos”, afirmou Lopes.
Brasil na África
A grande estrela do evento foi o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que reforçou a necessidade de o Brasil participar como um agente transformador no continente. Este é o “momento de ousadia para se construir uma nova África do século XXI”, exaltou Lula, que defendeu a participação do Brasil no estreitamento de parcerias e cooperações com as economias africanas.
“Paz, democracia, crescimento e distribuição de renda são as marcas registradas da África do século 21. A hora é de união, o tempo é de solidariedade entre as nações. Hoje existe um mar de possibilidades para serem aproveitadas pelos brasileiros, sul-americanos e africanos. Foi se o tempo em que o Atlântico nos separava”, disse.
As exportações do Brasil para o continente passaram de 2,4 bilhões dólares, em 2002, para 12.2 bilhões dólares, em 2011. Já a soma das exportações e importações passou de 4.3 bilhões dólares para 27.6 bilhões dólares, neste mesmo período.
Atualmente já estão em curso parcerias entre os dois lados do oceano no setor da construção e administração de usinas, linhas de transmissão, rodovias, ferrovias e plataformas. “Não podemos enxergar a África do jeito como era vista no passado, como uma simples fornecedora de minério e de gás. Temos que buscar sócios africanos e mão de obra local. Não queremos hegemonia, queremos parceria”, defendeu Lula.