O Brasil tem conseguido, sem adotar uma postura imperialista, se tornar um parceiro estratégico para o desenvolvimento da África. Essa é a opinião de Alex Rugamba, diretor de integração regional do BAfD (Banco Africano de Desenvolvimento), que esteve no Brasil para acertar a criação de um fundo de investimentos para o continente, uma parceria entre a instituição e o brasileiro BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).
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Em entrevista ao Opera Mundi, durante um seminário sobre investimentos do Brasil na África, n Rio de Janeiro, o economista afirmou que essa iniciativa pode ampliar os investimentos de brasileiros no continente. Também salientou a necessidade de o continente investir em infraestrutura e da importância estratégica do PIDA (Programa para Desenvolvimento das Infraestruturas na África).
No que consiste o PIDA?
O PIDA é o programa para o desenvolvimento de infraestrutura na África. Este é um programa desenhado por países africanos para superar seus déficits críticos em infraestrutura. Ele cobre quatro setores: transporte, energia, recursos hídricos transfronteiriços e Tecnologias da Informação e Comunicação. Foi desenhado para um período de 30 anos e endossado em janeiro de 2012. Neste longo prazo temos um plano de ação de oito anos, de 2012 a 2020.
Algumas projeções se referem à forma como o continente irá crescer. O programa foi desenhado com base nestas projeções brutas para sustentar este crescimento. Sem infraestrutura, não seremos capazes de atender a meta de crescimento de 6% da economia do continente. Hoje este valor está próximo de 6% do PIB, caiu um pouco no período da crise de 2008 e 2009, para 4%.
Para termos um crescimento sustentável nos próximos 30 anos no nível anterior, precisamos investir no PIDA. Para os próximos oito anos, buscaremos 68 bilhões de dólares nestes quatro setores. A maior parte é para energia, que demandara 40 bilhões.
Como o Brasil pode contribuir com o continente africano levando em consideração este plano de longo prazo de integração? O que os africanos esperam do Brasil?
Há diversas formas que esperamos que o Brasil ajude.Uma forma são os investimentos diretos. A Vale, por exemplo, tem feito isso de maneira significativa em Moçambique e na Guiné. Outra é através de intercâmbios na cooperação Sul-Sul. E a terceira é através da elaboração de projetos de desenvolvimento.
O mecanismo que está em negociação é a criação conjunta de um fundo entre os dois bancos de fomento?
Esta parceria pode ajudar a aumentar os investimentos de empresas brasileiras na África. Os investimentos brasileiros no continente cresceram de 3 bilhões de dólares para 12 bilhões de dólares nestes últimos anos. Ainda não sabemos os valores que o fundo irá operar, não chegamos a estes números. Mas espero que comecemos esse ano.
Qual é a sua opinião sobre a crescente presença brasileira na África?
Damos boas vindas. A experiência do Brasil pode ser extremamente importante para o continente. Podemos aprender muito sobre como o Brasil foi capaz de se desenvolver em um período relativamente curto. Por exemplo: nas ferrovias, energia, agricultura.e biocombustíveis.
Há uma corrente que afirma que o aumento da presença brasileira no continente teria uma feição neo-imperialista. Qual sua opinião?
Não vejo por esta ótica. Os BRICS não devem ser vistos sob esta forma de imperialismo. Gosto de usar a expressão “win-win”, em que todos os lados ganham com esta experiência. É muito distante de qualquer referência ao imperialismo.
É possível dizer que a presença da China no continente é mais agressiva em relação ao Brasil?
Sim, eles são (agressivos). Mas não acho que seja uma competição, há lugar para todos e as necessidades são enormes em todo o continente.
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