O presidente Luiz Inácio Lula da Silva iniciou hoje (19) a agenda oficial de sua segunda visita à China, e propôs a ampliação das já robustas trocas comerciais entre os dois países. O gigante asiático se tornou o principal parceiro comercial do Brasil em abril deste ano, alcançando 3,2 bilhões de dólares em trocas – 0,4 bilhão de dólares a mais que o então primeiro colocado, Estados Unidos, no mesmo período. No entanto, apesar de alguns avanços terem sido atingidos em setores como o petroleiro, de financiamento e automobilismo, a comitiva brasileira falhou em ampliar a exportação de carne para os chineses.
O presidente chinês Hu Jintao e o presidente Lula caminham no Grande Palácio do Povo, em Pequim – EFE/Diego Azubel
“Em um contexto de crise econômica, nossos governos têm de interagir de forma construtiva na busca de uma nova arquitetura financeira internacional”, assinalou Lula. “Vamos elaborar um plano de ação conjunta que lançará novas bases para ampliar a cooperação entre 2010 e 2014”.
Segundo dados oficiais brasileiros, o volume de comércio bilateral entre Brasil e China alcançou os 36,44 bilhões de dólares em 2008, um aumento de 55,9% com relação ao ano anterior. A troca comercial entre os dois países se baseia principalmente na venda de soja, petróleo e ferro do Brasil à China, mas também existe a cooperação em tecnologia de satélites e, com esta visita, Lula espera a ampliação de setores como o do biocombustível.
Avanços
Um dos primeiros anúncios do dia em Pequim foi a assinatura de um acordo de financiamento de 10 bilhões de dólares da estatal petrolífera Petrobras com o Banco de Desenvolvimento da China (CDB), versão chinesa do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). O prazo de pagamento será de dez anos.
Além do capital, o acordo prevê ainda a venda de petróleo brasileiro a uma subsidiária da Sinopec, estatal chinesa do petróleo, por dez anos. No primeiro ano, deverão ser exportados 150 mil barris diários, com a elevação para 200 mil barris diários nos nove anos seguintes.
Lula se reúne com a comitiva chinesa, acompanhado dos ministros das Relações Exteriores, Celso Amorim e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge – EFE/Jason Lee Pool
Acordos para uma linha de crédito de 800 milhões de dólares do CDB ao BNDES e outra de 100 milhões de dólares ao Banco Itaú foram assinados. O CDB também firmou um acordo de financiamento com o Banco do Brasil, mas os valores ainda não foram fechados.
No período da tarde, a maior montadora chinesa, Chery, confirmou que instalará uma fábrica no Brasil para a produção de até 150 mil veículos por ano. A informação foi confirmada pelo secretário executivo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Ivan Ramalho, durante um seminário empresarial em Pequim que faz parte da agenda da visita oficial do presidente Lula. A produção de veículos começaria até 2012.
Impasses
Apesar desses avanços, a visita de Lula não foi capaz de resolver alguns dos principais impasses nas negociações comerciais entre o Brasil e a China.
As autoridades brasileiras não conseguiram eliminar as barreiras para a exportação de carnes suínas e bovinas à China. O governo brasileiro reclama da demora na concessão de licenças de importação, que na prática impedem o comércio do produto.
O maior interesse do Brasil, no entanto, é a abertura do mercado chinês para a venda de carnes de porco, já que os chineses consomem cerca de 40% da produção mundial do produto.
Com relação às carnes bovinas, uma pequena quantidade de carne brasileira é exportada à China, mas barreiras sanitárias impostas após suspeitas de febre aftosa impedem a ampliação desse comércio. O governo chinês manteve os entraves sanitários.
Também não houve avanços em relação ao pedido brasileiro para que as autoridades chinesas permitam o envio de 45 aviões EMB-190 da Embraer, já vendidos a uma empresa aérea local. Empresas como a China Commercial Aircraft Co., estatal criada para competir com as grandes fabricantes de aviões no mundo, como a Boeing e a Embraer, têm preferência de venda.
Conselho de Segurança
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu a reforma do Conselho de Segurança da ONU (Organizações nas Nações Unidas) e a inclusão de mais países em desenvolvimento como membros permanentes do órgão.
A China já é membro permanente do Conselho, ao lado de Estados Unidos, Rússia, França e Grã-Bretanha. Apesar de apoiar a tese de reforma, a China se opõe, por questões de rivalidades regionais, à inclusão de Japão e Índia, dois dos países aliados do Brasil na postulação por novas vagas.
Ciência
Foi definido na visita, segundo o presidente Lula, que dois novos satélites devem ser lançados pelo programa Satélite Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres (CBERS), iniciado em 1988. O CBERS já colocou em órbita dois destes artefatos, que monitoram condições ambientais e mapeiam recursos oceânicos e terrestres. As imagens geradas pelo projeto poderão ser usadas, de graça, por países africanos.
Em janeiro passado, foi iniciada uma parceria entre a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e a Universidade de Tsinghua, que deve gerar projetos para reduzir a emissão de gases estufa e identificar fontes alternativas de biodiesel. “Esperamos que a cooperação bilateral seja expandida para incluir biotecnologia, nanotecnologia e outras áreas de biocombustíveis”, disse Lula, em discurso.
A Academia de Ciências Sociais da China fundou, durante a visita, um Centro de Estudos Brasileiros – o primeiro centro de estudos chinês a focar em um país latinoamericano. Dentre suas principais atividades, o centro deverá traduzir textos clássicos do pensamento sociológico brasileiro para o mandarim.
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