Entre árvores e arbustos, ergue-se um pedestal de granito de cerca de três metros de altura, coroado com o busto barbudo de um dos maiores filósofos de todos os tempos, onde se lê: “Trabalhadores do mundo, uni-vos.” A 126 anos de sua morte, o túmulo onde repousam os restos de Karl Marx e sua esposa Jenny von Westphalen, no cemitério londrino de alta burguesia de Highgate, transformou-se em local de peregrinação para muitos visitantes que chegam à capital britânica.
“Aqui chega gente de toda parte, o tempo todo. Outro dia, tivemos um grupo de estudantes chineses e alguns cubanos”, conta ao Opera Mundi Jean Pateman, responsável pelo cemitério. O interesse disparou, coincidindo com a crise econômica mundial e num momento em que o governo britânico planeja nacionalizar mais bancos. Afinal, Marx previu que o crash ocorreria e o Estado deveria controlar o crédito.
Segundo a editora Penguin, as vendas no Reino Unido de sua principal obra, O Capital, aumentaram em um terço no ano passado. Na Alemanha, a editora Dietz informou ter vendido 1.500 exemplares da obra-prima nesse período, ante 200 vendidos no ano anterior, enquanto as livrarias alemãs anunciaram um aumento de 300% nas vendas. O número de turistas que visitaram a localidade alemã de Tréveris, onde o filósofo nasceu em 1818, também cresceu, passando de 40.000.
Em Londres, onde o filósofo se refugiou em 1849 e permaneceu até sua morte, em 14 de março de 1883, existe até um “roteiro Marx”, que inclui o primeiro apartamento onde ele morou e a Biblioteca Memorial Marx, onde Vladimir Lenin trabalhou. Mas o túmulo é o lugar mais impactante de sua passagem por Londres, ironicamente dando as costas à City financeira londrina, que pode ser vista ao fundo. No tempo em que permaneci ali, houve um fluxo contínuo de visitantes, entre eles dois jovens espanhóis. “Tinha muita curiosidade de ver onde Marx estava enterrado. Este lugar é impressionante”, afirmou um deles, Jesús, que trabalha em uma editora.
Comunistas até a morte
A presença de Marx criou o rincão dos comunistas e ativistas sociais no cemitério, assim como na Abadia de Westminster existe a esquina dos poetas. De Claudia Vera Jones, fundadora do Festival de Notting Hill, aos líderes comunistas sul-africanos e iraquianos. O desejo de estar ao lado de Marx resiste até nossos dias, como mostra uma pequena lápide cinza quase encostada ao túmulo do filósofo, onde se lê: “Ian Dorans, 1939-2007, comunista até a morte”.
No entanto, Marx nem sempre esteve ali. Depois de sua morte, o amigo Friedrich Engels lhe comprou um lote funerário mais afastado. Em 1954, o Partido Comunista britânico decidiu que o lugar não era digno dos encontros anuais que marcavam o aniversário de sua morte. Assim, o corpo foi exumado e sepultado ao lado do da esposa no túmulo atual, coroado dois anos depois com a escultura que se vê hoje.
NULL
NULL
NULL