Chavistas e opositores ocuparam as ruas da capital venezuelana neste sábado (03/08), em dois atos simultâneos, com, no entanto, o mesmo objetivo: reivindicar o fim da corrupção. O grupo liderado pelo governador do estado de Miranda, Henrique Capriles, se reuniu na zona leste de Caracas. Já os chavistas, vestidos de vermelho, marcharam da Praça Venezuela – zona central da cidade – até a Assembleia Nacional, onde o presidente Nicolás Maduro pediu aos seus seguidores que se preparassem para batalhar “por uma nova ética política”.
Luciana Taddeo/Opera Mundi
Presidente Maduro discursou para milhares de pessoas: pelo fim da corrupção
Durante a marcha, apoiadores do governo cantaram músicas em memória ao falecido presidente Hugo Chávez, além de levantarem cartazes de inventivo à política anticorrupção, que vem sendo levada a cabo pelo governo – diversos funcionários, inclusive, foram presos por denúncias de corrupção.
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Incentivados por moradores de edifícios, que saiam às janelas balançando bandeiras e gritando consignas como “Chávez vive, a luta segue”, a marcha foi ganhando adeptos durante o longo percurso. Presente na manifestação, a presidente do Banavih (Banco Nacional da Vivenda e Hábitat), Maria Elena de Oliveira dos Santos, disse a Opera Mundi que a “limpeza contra a corrupção” realizada pelo governo vem surtindo efeito no funcionalismo público. “Várias pessoas que ganhavam por fora foram cortadas. Tenho confiança nesta luta”, vislumbra, garantindo que “é possível combater a corrupção”.
Luciana Taddeo/Opera Mundi
Opositores também fizeram grande protesto contra a corrupção
“O país mudou muito, sentimos na realidade do dia a dia. E esta luta contra a corrupção é parte do legado de Chávez, tem que continuar com esta luta por muitos anos, porque ele despertou a consciência dessa pátria. Somos venezuelanos, temos que estar unidos, ninguém é melhor que ninguém, o rico não é melhor que o pobre”, explicou o bombeiro Wilmer Manuel Medina Romero, criticando o ato convocado inicialmente pela oposição: “É um ato para eles mesmos, porque eles são os primeiros corruptos”, garantiu.
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Maduro, por sua vez, pediu uma “refundação bolivariana”. “Vamos buscar os farsantes, os hipócritas, os que colocam um gorro vermelho para roubar o povo, os que se escondem atrás da imagem de [Simón] Bolívar para roubar”, convoco, afirmando que os primeiros que devem “cumprir a lei” são os governantes e funcionários públicos. “O povo está na rua lutando contra a corrupção (…) e contra el capitalismo, que é o responsável da corrupção na Venezuela”, disse.
Luciana Taddeo/Opera Mundi
Vestidos de vermelho, chavistas marcharam pela cidade
Um dos rostos frequentes nos cartazes levantados por chavistas era o do deputado opositor Richard Mardo, que perdeu a imunidade parlamentar nesta semana, por acusações de fraude e lavagem de dinheiro. A decisão da maioria chavista no Legislativo foi um dos motivos citados pela oposição para o chamado ao protesto de hoje (03). Posteriormente, o chavismo convocou uma contramarcha simultânea ao ato de Capriles, em respaldo a medidas de combate à corrupção promovidas pelo governo.
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Oposição
“Não há azeite”, “não há farinha”, “com o salário mínimo não dá para comer”. Além de ironias em relação à nacionalidade de Maduro, que afirmam ser colombiano, estas foram algumas das mensagens lidas nos cartazes levantados na manifestação opositora. “Sei que antes do chavismo havia mais pobreza, mas agora temos que reconhecer que estamos pior do que quando estava Chávez. Agora não encontramos manteiga, papel higiênico, cimento”, queixou-se Emily Vázques, uma jovem que participava do ato.
Já a vendedora Carolina Fernández contou que protesta contra o governo desde a greve petroleira de 2002-2003, com a qual a oposição tentou derrubar Hugo Chávez ao desabastecer o país de suprimentos básicos. “Tenho muita vontade de chorar, sinto impotência por ver como destroem o país. Temos um governo ladrão, luto pela liberdade, contra o poder eleitoral que fez trapaça nas eleições. Tudo tem um limite e por isso estou aqui, há um momento em que a tolerância já não é virtude”, afirmou.
Em seu discurso, o governador do Estado de Miranda, Henrique Capriles, que não reconhece a derrota para Maduro na eleição presidencial de 14 de abril, afirmou que com o atual governo “não dá mais”, mas que a oposição deverá chegar ao poder pela via constitucional. “A pior coisa que pode acontecer com este país é um governo militar, um golpe de Estado, os democratas temos o compromisso de conseguir mudanças democraticamente”, disse, garantindo no entanto que “esta revolução já acabou”.