Na tentativa de combater estereótipos relacionados aos países que passam por profunda crise econômica, a Comissão Europeia implementa um programa inédito com profissionais da imprensa. Como parte dessa iniciativa, 29 jornalistas alemães passaram quatro dias em Portugal.
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O programa incluiu encontros com o presidente da República, Aníbal Cavaco Silva, o primeiro-ministro, Pedro Passos Coelho, e outros membros do governo, mas também com líderes da oposição socialista, sindicalistas e empresários.
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A intensa agenda, contudo, não deixou muito espaço para “o contato com a população e a economia real”, lamentou Panagiotis Koutoumanos, 46 anos, do diário Frankfurter Neue Presse, um dos principais veículos de Frankfurt, coração financeiro da Europa. Da janela do hotel, à primeira hora da manhã, ele costumava assistir, curioso, ao vai e vem do bairro Mouraria, local conhecido pelos problemas de exclusão social e por ser o berço do fado.
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Jornalistas alemães enviados a Portugal: tentativa da Comissão Europeia de minimizar estereótipos de países em crise
A Comissão Europeia espera ver o impacto do evento nos próximos dias, quando os jornalistas começarão a publicar suas matérias. O que se sabe, por enquanto, é que a iniciativa tem potencial de disseminação: os veículos de comunicação envolvidos somam mais de 8,5 de exemplares com circulação em diferentes estados alemães. Em solos portugueses, o evento não teve muita cobertura: “Não quisemos que a notícia fosse o evento em si, mas aquilo que os jornalistas escreverão depois”, disse Manuel Romano, um dos organizadores, a Opera Mundi.
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O país “bem-comportado”
A reportagem de Opera Mundi acompanhou um encontro de confraternização do grupo: alguns ensaiavam palavras em português, outros trocavam impressões calorosas sobre Portugal. Koutoumanos estava contente de reencontrar o lugar que visitou há mais de vinte anos, quando ainda era estudante. Escreve pouco acerca da crise lusitana, e se confessava até agora muito mal informado sobre a situação geral do país. “Com exceção das praias do Algarve [sul de Portugal], na Alemanha não se sabe muito sobre a realidade portuguesa”.
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Filho de gregos e sem passaporte alemão “por opção”, ficou surpreso com o que viu nos dias de visita: “Pensei que haveria muito mais pobreza e tensão social nas ruas, como na Grécia”, relata. Ele sente na pele a crise que assola as ilhas onde vive grande parte de sua família. O tratamento dispensado pela imprensa alemã a cada lugar também é bastante diferente: Portugal, acredita, é visto como “bem-comportado” e “aquele que não dá problemas”; já a Grécia é “o caos”.
Apesar de o objetivo do evento ser de diálogo, e não cobrança, o jornalista greco-alemão notou algo em comum nos discursos dos conferencistas: todos insistiam que Portugal devolverá o que deve aos cofres internacionais. No fim de Novembro, será a vez de eles darem explicações à 'troika' (Comissão Europeia, banco Central Europeu e FMI), que estará no país para mais uma das últimas vistorias do programa de assistência financeira.
Já passavam das 23 horas quando Koutoumanos, ainda de paletó e gravata, conseguiu dar uma 'escapadinha' para respirar um pouco o ar lisboeta e conhecer, “de fato, a cidade” – embora àquela hora fosse se deparar com as ruas vazias e as portas do comércio local fechadas.