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“Eu sou Billy, El Niño. Se você não me conhece, agora vai conhecer”. Este era o cartão de visitas de José Antonio González Pacheco, ex-inspetor policial e um dos quatro espanhóis que tiveram suas prisões decretadas pela juíza argentina María Servíni de Cubría no dia 18 de setembro deste ano.
Billy, El Niño trabalhava para a Brigada Político-Social, a polícia política do franquismo, e é acusado de torturar dezenas de opositores à ditadura de Francisco Franco (1939-1975) na sede da Direção Geral de Segurança, na Praça Puerta Del Sol, em Madri.
Agência Efe
Billy, El Niño não quis mostrar o rosto ao se apresentar à Justiça espanhola no último dia 5
“Ele era um tipo baixinho, com uns afanes de notoriedade”, lembra José María Galante, um dos que dizem ter sido torturados pelo policial. “Eu lembro bem dele. Eu estava pendurado pelos pulsos e ele fazia exercícios de caratê na minha frente e depois me dava chutes”, diz Galante. Billy, El Niño, não era o pior torturador a serviço da ditadura, segundo diversas fontes relataram à reportagem de Opera Mundi, mas era o que mais desfrutava da fama de perigoso.
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“Este apelido foi dado por suas vítimas, mas ele gostou”, explica Jesús Rodríguez, outra das vítimas. “É uma identificação com o pistoleiro, que saca a arma com facilidade. Dizia um companheiro nosso que chamá-lo de Billy, El Niño, é uma ofensa para o verdadeiro personagem de Billy, The Kid, que era um pistoleiro e ladrão de bancos, mas não um psicopata que desfrutava quando causava dano às pessoas”.
Todas as testemunhas na causa aberta contra o ex-policial relatam a satisfação com a qual Billy, El Niño, torturava os opositores. Algumas de suas vítimas afirmam que era possível notar quando um torturador fazia o trabalho porque era obrigado e quando fazia porque gostava. “Quando digo que era um torturador compulsivo é porque era um tipo que não tinha descanso. Se não estava em serviço, ia à Direção Geral de Segurança porque sempre tinha alguém a quem torturar. Era de alguma forma um trabalhador exemplar”, lembra Galante.
O ex-policial pertencia a um grupo dentro da Brigada Político-Social que se especializou em perseguir grupos de esquerda. “Ele criou um grupo especializado em investigar organizações como a que eu militava. Éramos radicais ideologicamente, mas não praticávamos nenhum tipo de violência”, explica Rodríguez, que naquela época pertencia à LCR (Liga Comunista Revolucionária).
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Rodríguez se encontrou duas vezes com o ex-policial, sendo a primeira delas quando foi detido em sua casa, em abril de 1975. Desta ocasião, ele lembra que, ao ver pessoas uniformizadas quando saía pela porta de seu edifício, começou a correr sem pensar muito no motivo. Arrependeu-se instantes depois, quando Billy, El Niño, começou a disparar em sua direção. O segundo encontro foi durante o fim de uma sessão de tortura.
“Eu tinha negado absolutamente tudo o que eles tinham inventado, uma história fictícia para eu ser julgado. Então, Billy, El Niño, em um de seus gestos teatrais, porque era um homem muito teatral e exibicionista, saca a arma. Ele era um homem dado a exibir a arma, daí o apelido. Ele saca a arma e aponta para a minha cabeça. Então, me diz: ’você é um vermelho de merda, agora mesmo eu posso dar um tiro em você e não acontecerá nada. Se você não me diz a verdade, eu vou te matar’”, lembra Rodríguez, que não assinou a declaração forjada pela polícia. As declarações dos acusados eram sempre acompanhadas dos nomes dos policiais que estavam presentes nos interrogatórios e, anos mais tarde, são uma das principais provas contra os torturadores.
Com o pedido de prisão decretado pela juíza argentina, Billy, El Niño, aguarda a decisão do magistrado espanhol Pablo Ruz sobre a sua extradição. Segundo um jurista consultado pela reportagem de Opera Mundi, o acordo entre Argentina e Espanha permite a extradição de nacionais espanhóis ao país sul-americano. O futuro de Billy, El Niño, não está mais em suas mãos.