O primeiro dia da conferência “Genebra II”, que discute as condições para a paz na Síria, foi marcado por desentimentos entre os países presentes. Durante as negociações realizadas nesta quarta-feira (22/01), os participantes demonstraram inflexibilidade pela permanência ou não de Bashar al-Assad no poder. Pela primeira vez, o governo e a oposição da Síria se encararam frente a frente e manifestaram hostilidade mútua.
Aos olhos do líder da oposição, Ahmed Jarba, Assad cometeu crimes de guerra nos moldes nazistas e exigiu que a delegação do governo sírio assinasse um acordo para a entrega do poder. “Assad é o problema. Nós dizemos democracia, eles dizem Assad. Nós estamos falando de uma nação, eles estão falando de um homem”, comparou Monzer Akbik, outro porta-voz da oposição.
Em sua defesa, o ministro das Relações Exteriores da Síria, Walid al-Moualem, pediu às potências internacionais a remoção das sanções contra Damasco e o fim do apoio aos “rebeldes terroristas”. Para o chanceler, somente o povo sírio pode decidir o destino de Assad. “Ninguém tem o direito de retirar a legitimidade de um presidente ou governo que não os próprios sírios”, alfinetou.
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O discurso de Moualem irritou países da União Europeia. O ministro do Exterior da Alemanha, Frank-Walter Steinmeier, disse que a sua posição inflexível era “enfurecedora”. Autoridades francesas classificaram a fala do chanceler como “agressiva”, segundo a Reuters. Enquanto John Kerry, secretário de Estado dos EUA, seguiu a visão dos rebeldes e defendeu uma coalizão provisória, Sergei Lavrov, chanceler russo, condenou “interpretações unilaterais” do acordo.
Irã
Mesmo fora da cúpula, o presidente iraniano, Hassan Rouhani, declarou que “a reunião Genebra 2 já falhou mesmo antes de começar”. Para o líder persa, é pouco provável que as negociações na Suíça sejam bem-sucedidas em virtude da falta de agentes influentes na confência. O Irã não participou da conferência, pois o secretário-geral da ONU retirou o convite ao país, após uma série de ameaças de boicotes da oposição síria.
Agência Efe
John Kerry, secretário de Estado dos EUA, cumprimenta o ministro de Assuntos Exteriores da Arábia Saudita, Saud al Faisal
Na conferência, o Secretário-Geral das Relações Exteriores do Brasil, Eduardo dos Santos, afirmou que “não pode haver uma solução para o conflito se as partes que se enfrentam continuam recebendo recursos financeiros e armas a partir do estrangeiro”. O embaixador faz alusão ao apoio financeiro e logístico de países à oposição (como Arábia Saudita e Catar) e à Assad, cujo principal aliado é o Irã.
No Vaticano, o papa Francisco pediu às autoridades da conferência que cheguem a um acordo o mais rápido possível para encerrar a guerra síria. Aos olhos do papa, o governo sírio e a oposição não devem “poupar esforços para alcançar urgentemente um fim à violência e acabar com o conflito, que já causou tanto sofrimento”.