A Felicidade Interna Bruta (FIB), conceito que propõe medir a riqueza das nações pelo bem-estar real dos cidadãos, alegria de viver, sorrisos, e não pelo dinheiro, como o Produto Interno Bruto (PIB), é o assunto da 5ª Conferência Internacional sobre Felicidade Interna Bruta, um encontro mundial realizado em Foz do Iguaçu, no Paraná.
Medir a riqueza das nações pela felicidade das pessoas, em vez de por quanto as economias valem em dinheiro, é a proposta de especialistas de todo o mundo que participam da conferência. Psicólogos, antropólogos, sociólogos e economistas buscam dar um impulso ao conceito do FIB e colocar em evidência as carências da lógica que rioriza demasiadamente o PIB.
“O PIB não serve mais. Mede a guerra, os desastres e os acidentes. Precisamos de uma alternativa que inclua o desenvolvimento sustentável e o bem-estar das pessoas”, disse à Agência Efe a psicóloga americana estabelecida no Brasil Susan Andrews, considerada uma embaixadora da FIB no país.
O atual primeiro-ministro do Butão, Jigme Yoser Thinley, também esteve em Foz do Iguaçu para explicar como a FIB foi introduzida em seu país, em uma Constituição democrática, recentemente aprovada.
“Cada programa, cada política ou projeto deve ter agora algum valor em FIB”, disse Thinley. Segundo ele, há a intenção de criar no Butão, um pequeno Estado situado nos pés da cordilheira do Himalaia, o Ministério do Bem-Estar Psicológico.
“A verdadeira felicidade chega de uma profunda sensação de satisfação, mas os ricos só têm o prazer fugaz de cômodas posses”, acrescentou, enquanto falou do ser humano como “animal econômico”, vítima do “consumismo na catedral do mercado”.
Nicolas Sarkozy e Hugo Chávez
Thinley aproveitou a oportunidade para enfatizar o cuidado com o meio ambiente, perguntando “como podemos ser felizes se sabemos que nosso estilo de vida fará com que as novas gerações tenham que enfrentar desafios tão grandes para sobreviver?”.
O uso do PIB para medir a riqueza dos países é uma prática já questionada até pelo presidente da França, Nicolas Sarkozy, que chegou a chamá-lo de “religião do número”, que serve para “nunca falar das desigualdades”.
Sarkozy chegou a encomendar um estudo de como complementar o indicador a uma comissão da qual fizeram parte o indiano Amartya Sen e o norte-americano Joseph Stiglitz, ambos já receberam o Prêmio Nobel de Economia.
Quem também já fez discursos contrários ao PIB foi o presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Após saber que o indicador caiu 4,5% no terceiro trimestre em seu país, disse que “chegou a hora de mudar a forma de medir a economia”.
No início dos anos 90, a mesma preocupação levou a ONU (Organização das Nações Unidas) a criar o IDH, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). O indicador é usado para classificar os países levando em conta questões como educação, saúde e difusão de condições de vida digna, e não apenas condições exclusivamente econômicas, como acontece com o PIB.
Pioneirismo
Há mais de 30 anos, Jigme Singye Wangchuck, o então rei do Butão, percebeu que o mundo ocidental media a riqueza por fatores que não sintonizavam com as profundas raízes e tradições budistas de seu país. Longe da concepção de desenvolvimento como a mera acumulação de bens materiais, o Butão buscou abrir espaço ao conceito de Felicidade Interna Bruta.
Desde então, nove fatores passaram a compor o FIB: o bem-estar psicológico, saúde, quantidade de tempo livre para o lazer, vitalidade comunitária, educação, cultura, meio ambiente, envolvimento em assuntos da vida política e nível de vida.
A população da Costa Rica é a mais feliz do mundo, segundo o estudo da New Economics Foundation, grupo independente britânico que faz o cálculo do índice HPI (Happy Planet Índex, Índice de Felicidade do Planeta em português).
Com pouco mais de 5 milhões de habitantes, a Costa Rica tem expectativa de vida de 78,5 anos e grau de satisfação populacional de 8,5, (em escala de zero a dez) e ainda tem 99% de sua energia proveniente de meios renováveis.
Esse tipo de avaliação, criado em 1996, conta com 143 países (cerca de 99 % da população mundial) e para ser calculada cruza três fatores: o grau de satisfação da população de cada país participante, a esperança média de vida de seus habitantes e as suas políticas ambientais. Diferentemente do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) da ONU (Organização das Nações Unidas), que avalia riqueza, educação e expectativa média de vida.
Aspirações materiais
Nove entre os dez primeiros lugares foram dados a países da América Latina. Nações mais desenvolvidas como Estados Unidos, Inglaterra e Canadá não tiveram o mesmo desempenho.
Os latino-americanos marcaram muitos pontos, segundo o relatório, por não ter muitas aspirações materiais. Entre os países mais desenvolvidos quem teve melhor colocação foi a Holanda (em 43º lugar). Os Estados Unidos ficaram em 114º, posição ainda melhor que na ultima vez que a lista foi divulgada quando figuraram em 150º – na época a lista calculava sua média entre 178 nações, agora são apenas 143.
Apesar da longa expectativa de vida apresentada em países mais desenvolvidos, e uma felicidade razoável apresentada por seus habitantes, seus pontos caem no quesito meio ambiente. O desafio para tais países não é elevar a renda, mas ter “vidas mais significativas e criar laços sociais mais fortes”. O último lugar foi do Zimbábue, junto com outros países africanos.
Desde o lançamento do índice, há 13 anos, a pesquisa de HPI, só foi feita uma vez, quando foi realizada entre 178 países e teve como primeiro lugar a ilha de Vanuatu, na Oceania. O Brasil, que agora está em nono lugar, na época ocupou 64º lugar.
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