Enormes manifestações são esperadas ao redor do mundo neste Dia do Trabalho, o primeiro após o estouro da crise mundial. Somente na França, são aguardadas cerca de 1,5 milhão de pessoas nas ruas em 277 manifestações. A bandeira hasteada deve ser uma só: todos contra a forte alta do desemprego.
De acordo com relatório da OIT (Organização Mundial do Trabalho), 40 milhões de pessoas podem ficar sem emprego em todo o mundo em 2009. Só nas economias da União Europeia e dos outros países desenvolvidos, o número de desempregados poderia, no cenário mais negro, aumentar oito milhões – dos 32 milhões estimados para 2008 para 40 milhões.
Entre 1,5 milhão e 2,4 milhões de pessoas na América Latina devem perder seus postos de trabalho este ano, uma desaceleração de 1,9% no crescimento. No Brasil, a taxa de desemprego atingiu 9% em março, ante 8,5% em fevereiro, de acordo com o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Grandes empresas demitiram, como a mineradora Vale, que dispensou 1,3 mil pessoas, e a fabricante de aviões, Embraer, que disse em fevereiro que reduzirá até o final do ano a força de trabalho em 20%.
Sindicalismo
Com o fantasma do desemprego, as reivindicações organizadas tendem a ganhar espaço, segundo Stéphane Monclaire, professor de Ciências Políticas na Universidade Sorbonne, em Paris. Ele acredita que a força dos sindicatos pode crescer, pois haverá nas manifestações um agrupamento das ideias, antes dispersas, em torno de um ponto comum: a recuperação da crise econômica.
“Nos anos 1980, no 1º de Maio, cada sindicato se manifestava na sua própria ‘rua’. Dessa vez, trata-se de uma manifestação unitária, com palavra de ordem unitária, o que nunca havia acontecido. Mas não vejo os sindicatos como uma alternativa ao que existe, e sim como uma força institucional e necessária”.
Para ele, a perda de legitimidade dos partidos, falando especificamente da França, naturalmente leva as pessoas a buscarem outras formas de reivindicação, o que também poderia engrossar as fileiras sindicais.
“A atuação dos partidos diminuiu. As respostas que deram aos problemas econômicos não satisfizeram a população e as brigas internas, principalmente no PS (Partido Socialista) francês, trazem confusão. Quando os partidos não dão satisfação, é normal que se recorra a outras formas de representação, não só os sindicatos”.
Desde o início da crise, 87 mil franceses perderam o emprego e há no total três milhões de desempregados. “O crescimento é tão grande que as agências estatais que cuidam normalmente do desemprego não conseguem acolher as pessoas”, afirma Monclaire.
“Os franceses esperam que as coisas mudem. Não em favor de uma revolução, de uma mudança total. Mas gostariam que o sistema capitalista se tornasse novamente simples, claro e construtivo. Agora a impressão é que estão caminhando na contramão”, explica.
Termômetro
Para João Guilherme Vargas Neto, consultor de entidades sindicais, no 1º de Maio todos os países terão um termômetro das ruas, do que a população está pensando e exigindo hoje. “É um momento de reunião e avanço”, diz.
Segundo ele, apesar de o Brasil não estar sentindo os mesmo efeitos da crise econômica que nações europeias e os Estados Unidos, aqueles que foram atingidos pelo desemprego ou que pleiteiam mudanças em seu local de trabalho conseguem se organizar de forma mais eficaz.
“Há campanhas bem-sucedidas, como a recente manifestação dos trabalhadores da construção civil em São Paulo, que conseguiram chamar a atenção e ser ouvidos”, assinala Vargas Neto. Na segunda-feira (27), 80% dos canteiros de obras ficaram paralisados na capital, segundo o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP). Os trabalhadores reivindicam reposição da inflação e aumento real de 5,5%.
Pressão
Na opinião de Stephane Monclaire, as manifestações de 1º de Maio não resolverão a crise, mas já surgirão como um caminho para a melhora da situação. “Vivemos um momento em que cada vez mais a pressão está subindo e o risco de uma explosão social existe”.
De acordo com ele, a resposta dos governos à crise deve ser mais didática e eficaz. “As pessoas não estão pensando em uma solução rápida, mas querem entender por que foi possível liberar bilhões de euros para salvar bancos e nada é aplicado na solução dos problemas da população. Ela pede atitudes”.
Como exemplo da “radicalização” que paira no ar, ele cita os sequestros de empresários e diretores de empresas por trabalhadores, algo que tem certa “tradição” na França. “Na semana passada, uma pesquisa de opinião mostrou que 17% das pessoas acha legítimo o seqüestro dos empresários. Claro que a maioria prefere a greve e a manifestação para resolver problemas socioeconômicos, mas alguns apelam a essa forma radical de serem ouvidos”.
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