Os norte-americanos entraram em estado de choque hoje (2) após receberem a notícia de que Chicago não seria a sede das Olimpíadas de 2016. A surpresa foi maior quando o COI (Comitê Olímpico Internacional) anunciou a vitória do Rio de Janeiro. Diversos canais de televisão locais imediatamente iniciaram uma maratona de críticas à falta de segurança da cidade brasileira.
“Não pode ser, não pode ser”, gritava uma habitante de Chicago diante das câmeras da CNN, que captavam as milhares de pessoas concentradas no Parque do Milênio, no centro da cidade, à espera do resultado (foto abaixo). Muitas delas começaram a chorar, como se tivessem perdido um familiar ou um líder político.
Tannen Maury/EFE
“Para eles foi um choque. É a cidade de [Barack] Obama e muitas dessas pessoas esperavam que o prestígio do presidente pudesse influenciar o COI a escolher Chicago”, comentou ao Opera Mundi o analista político da Universidade Internacional da Florida, Daniel Alvarez.
Além disso, “em meio à crise econômica que atravessa o país, muitos esperavam que a realização dos jogos em Chicago abrisse muitas possibilidades de emprego”, acrescentou.
“Vitória roubada”
“Chicago fora, Brasil ganha”, foi a curta manchete que o diário Chicago Tribune colocou em sua página na internet. Para a maioria dos comentaristas norte-americanos, a vitória brasileira foi praticamente “roubada” dos Estados Unidos.
Vídeo mostra indignação de âncora da CNN ao receber a notícia da derrota de Chicago:
“Como podemos explicar isso?”, perguntava uma jornalista da CNN ao governador do estado de Illinois, Pat Quinn. “Não há muito que explicar, a política tem sempre um papel decisivo e o Brasil ultimamente tem estado sob os holofotes”, disse o governador. Logo depois, Quinn deixou a impressão de que o presidente Barack Obama se envolveu na campanha “tarde demais”. Chicago, “teria mais chances se a Casa Branca tivesse sido mais agressiva”, acrescentou.
Em Washington, a reação foi ruim. “Não vejo como esse fato possa ter sido um sinal de repúdio ao presidente ou à primeira-dama. Acredito que a política está por todos os lados e não há duvida de que ela estava presente naquela sala [onde se realizou a votação olímpica]”, afirmou David Axelrod, assessor político de Obama, que discursou durante a apresentação de Chicago em Copenhage.
Soren Bidstrup/EFE
“Sabíamos que as chances do Rio de Janeiro eram sérias e o presidente foi a Dinamarca fazer um forte apelo. Não deu, mas valeu a pena”, concluiu.
Campanha negativa
Nas últimas semanas, a cidade do Rio de Janeiro foi objeto de uma discreta campanha negativa por parte de um setor da mídia norte-americana. Em termos gerais, comentaristas indicavam que o Rio era uma sede pouco apropriada para as Olimpíadas, dado o alto índice de violência, porém, não citavam o igualmente alto nível de criminalidade em Chicago.
Segundo números oficiais, Chicago tem duas vezes e meia mais casos de violência do que a média do país.
Essa semana, a revista New Yorker, lida pela elite cultural e política norte-americana, publicou uma ampla reportagem de capa sobre “as gangues no Rio de Janeiro”, ilustrada com fotografias muito parecidas com as que chegam da frente de batalha no Iraque. Além de realçar que o comércio no Rio de Janeiro está em colapso, a New Yorker afirma que a cidade não merece ser a sede olímpica, porque já vai recepcionar a Copa do Mundo de 2014.
Veículos chegaram ao ponto de apresentar a escolha da sede como um “duelo” entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Barack Obama. Segundo a Bloomberg, Lula se lançou em uma estratégia para promover relações com os países da América do Sul com o único objetivo de conseguir votos para o Rio de Janeiro.
“Desde abril Lula já visitou oito países para conquistar apoio”, afirmou um artigo, não assinado, distribuído pela agência de notícias financeira. De acordo com a Bloomberg, esse teria sido, inclusive, a mensagem principal da viagem de Lula a Nova York na semana passada.
“Lula está concentrado em obter o apoio dos 15 membros africanos do COI, que representam 13 países. É o segundo continente entre os 106 membros [do COI], depois da Europa. A África, América Latina e Caribe são o coração da política exterior brasileira desde que o Lula assumiu a presidência em 2003”, assinalou a Bloomberg.
Para a agência, o Brasil teria lançado uma campanha de compra dos votos, com investimentos em países subdesenvolvidos.
A Bloomberg afirma que os investimento brasileiros no exterior chegaram a 20 bilhões de dólares anuais e a maioria foi destinada a países do Terceiro Mundo, e que “as vendas de bens e serviços aos países em desenvolvimento geraram 50% de todas a exportações do ano passado, enquanto que antes da chegada de Lula ao Planalto, não passavam de 38% anuais”.
“Lula visitou 19 países da África e abriu 15 embaixadas no continente. Em julho, foi hóspede de honra da Cúpula da União Africana, na Líbia. Ali pediu aos chefes de Estado que votassem pelo Brasil”, acrescentou a Bloomberg.
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