A polícia de Nova Déli, capital da Índia, registrou em 2015 um recorde de 2.095 denúncias por estupro no total, revelou a imprensa local nesta terça-feira (05/01).
Segundo os veículos indianos, o aumento está vinculado com uma mudança nos procedimentos policiais, que agora recebem mais denúncias e de maneira gratuita.
EFE/ Arquivo
Mulheres protestam frente ao tribunal de Nova Déli em setembro de 2013 durante o julgamento dos acusados pelo estupro e morte de jovem
Com esse novo sistema, isso significa que cerca e seis mulheres são violentadas por dia na capital do país asiático.
De acordo com o chefe da Polícia de Déli, B.S. Bassi, o relatório compila denúncias de até 15 de dezembro. Em entrevista a jornalistas ontem, ele disse que em 2012 foram registrados 706 casos de estupro na capital.
Em coletiva de imprensa semelhante no início de 2015, Bassi havia dito que as mulheres deveriam aprender a se defender sozinhas de ameaças de estupro. “Pedimos a todos para unir nossas mãos para que cada mulher em Nova Déli seja treinada em defesa pessoal. Quero que cada mulher tenha faixa marrom de judô”, declarou na ocasião à agência Ians.
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Para as autoridades, esse aumento nos últimos 3 anos mostraria uma “conscientização da sociedade” e “mudança de percepção” dos habitantes da capital, desde o estupro feito por um grupo de homens contra uma jovem estudante em um ônibus em circulação, que resultou na morte dela dias depois em virtude dos ferimentos.
O caso, que também ganhou destaque da imprensa internacional, gerou uma onda de fúria e de protestos em relação à violência contra as mulheres, ao feminicídio e às altas taxas de estupro na nação.
No entanto, a radiografia dos crimes sexuais contra mulheres em Nova Déli indica a presença de um fenômeno largamente doméstico, em contraste com a narrativa recorrente do perigo à espreita nas ruas, representado pela multidão de migrantes internos – frequentemente provenientes da zona rural do país – empregados nos setores da construção civil e do transporte público. Um segmento da população tradicionalmente percebido como analfabeto e de costumes retrógrados frente ao tão celebrado “progressismo” da classe média emergente, aponta o jornalista Matteo Miavaldi na capital indiana.
Vários ativistas indianos acusaram a polícia local de não registrar as denúncias por estupro e inclusive de tentar forçar as mulheres violadas a se casar com seus agressores.
Entrevistada pela Agência Efe, a diretora para o Sul da Ásia da organização HRW, Meenakshi Ganguly, chegou a definir no passado as delegacias indianas como “lugares que inspiram temor” e criticou que a polícia “frequentemente” degradava e voltava a traumatizar as vítimas de estupro.
(*) Com informações da Agência Efe