O ex-ditador haitiano Jean-Claude Duvalier finalmente compareceu ao tribunal, nesta quinta-feira (28/02) para prestar depoimento sobre as acusações de violações aos direitos humanos durante seu regime (1971-1986). A apresentação de “Baby Doc” diante da Justiça se dá após faltas a três audiências.
O ex-ditador, que assumiu o poder no Haiti aos 19 anos, chegou ao tribunal em seu próprio carro e várias horas antes da audiência, acompanhado de sua esposa, Veronique Roy. Quando questionado sobre as acusações de violações dos direitos humanos, afirmou, segundo a agência de notícias AFP, que cada vez que lhe remetiam um caso, “intervinha para que a justiça fosse feita”.
As declarações do ex-ditador eram repetidas ao juiz por um auxiliar, já que sua voz era inaudível. Quando interrogado sobre seu regime, Baby Doc afirmou que não poderia dizer que a vida era a ideal, mas que “as pessoas viviam decentemente”. “No meu retorno encontrei um país afundado e corroído pela corrupção (…) É minha vez de perguntar: que fizeram com meu país?”, rebateu. “Sob minha autoridade, crianças podiam ir à escola, não tinha insegurança”, declarou à Justiça.
O intuito da audiência desta quinta-feira é determinar se uma investigação será iniciada para dar continuidade aos processos sobre as vítimas de seu regime. Como no ano passado, a Justiça havia determinado que Baby Doc, atualmente com 61 anos, somente seria julgado por desvio de fundos públicos, a sessão judicial é vista como a derradeira oportunidade para que o ex-ditador enfrente as acusações de prisões ilegais, torturas e assassinatos políticos.
As persistentes faltas de Duvalier às audiências eram vistas por organizações de direitos humanos como uma tentativa de evadir à Justiça. Após a última ausência, na semana passada, o juiz Jean-Joseph Lebrun deu um ultimato para que o ex-ditador “fosse levado” aos tribunais, com escolta policial se necessário.
Iniciado no poder aos 19 anos, Jean-Claude herdou o título de “presidente vitalício” após morte de François Duvalier, também chamado de “Papa Doc”. Com o apoio de um grupo paramilitar conhecido como “Ton Ton Macoutes” (“Homens do Saco”, no idioma local), Baby Doc é acusado de perpetuar um regime sangrento iniciado por seu pai.
Após 15 anos no poder, Baby Doc foi finalmente deposto por uma revolta popular e fugiu do país, iniciando um exílio de 25 anos na França. Para ativistas de direitos humanos, seu retorno ao Haiti em 2011 foi possível devido ao bom relacionamento do ex-ditador com membros do governo de Michel Martelly.
*Com agências internacionais
NULL
NULL