A três meses da eleição presidencial no Paraguai, marcada para o dia 21 de abril, os partidos de esquerda ainda negociam para lançar uma candidatura única no país, de acordo com o ex-chanceler Jorge Lara Castro, que estava no cargo quando o presidente Fernando Lugo foi deposto, em junho de 2012.
Luciana Taddeo/Opera Mundi
Lara Castro esteve em São Paulo nesta semana para participar de evento organizado pelo Instituto Lula
“A divisão no campo da esquerda gera dificuldades ainda maiores nesta eleição, que será realizada em um contexto diferente, posterior a um golpe de Estado. Mas ainda há elementos para se pensar na unidade. Neste mês devemos ter alguma definição”, analisou Lara Castro.
Até o momento, há três candidaturas de partidos que mantiveram o apoio a Lugo mesmo depois de sua destituição. Além de Aníbal Carrillo, da coalizão Frente Guasu, também lançaram seus nomes Mario Ferreiro (Avança País) e Lilian Soto (Kuña Pyrenda, que defende a igualdade de gênero) . Os outros candidatos são Efraín Alegre (Partido Liberal Radical Auténtico), Horario Cartes (Colorado), Lino Oviedo (Unace), Miguel Carrizosa (Patria Querida) e Coco Arce (PT).
Para Lara Castro, Alegre e Cartes são favoritos por serem de partidos mais tradicionais. “Os partidos Liberal e Colorado são históricos, verdadeiras máquinas eleitorais. As regras do jogo beneficiam esses partidos tradicionais”, afirmou o ex-chanceler em visita a São Paulo, nesta segunda-feira (21/01), para participar de evento organizado pelo Instituto Lula.
Suspenso do Mercosul e da Unasul (União das Nações Sul-Americanas) pelo golpe de Estado contra Lugo, o Paraguai viverá uma eleição crucial em abril. Como ex-chanceler, Lara Castro acredita que o tema das relações exteriores aparecerá de forma muito mais forte na campanha deste ano, em comparação a pleitos anteriores.
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“A integração regional estará presente na campanha eleitoral de forma muito forte. Haverá uma contraposição entre parte do setor empresarial, que defende uma espécie de autismo político, com a nossa saída do Mercosul, e nós, que queremos aprofundar a integração”, argumentou.
Sobre a possibilidade do Paraguai voltar a participar de forma efetiva dos blocos regionais no mandato do próximo presidente, Lara Castro disse esperar que o vencedor do pleito tenha essa “racionalidade política”. “Tenho a esperança que os políticos paraguaios retomem o critério da racionalidade política e percebam em qual século estamos vivendo e quais os desafios a serem superados em parceria com nossos vizinhos.”
Questionado sobre os motivos da queda de Lugo, o ex-chanceler destacou dois motivos, um interno e outro externo. “O golpe de Estado não ocorreu apenas contra Lugo, mas contra o projeto de integração que estávamos estabelecendo na região. Onze chanceleres tentaram dialogar com os políticos de nosso país, para evitar o golpe, mas ninguém quis ouvi-los. Internamente, o governo Lugo acabou por ter dado maior participação às pessoas, por possibilitar a expressão real das propostas de todos para melhorar o país”, analisou.