Temendo a possibilidade de perder o controle das ilhas Malvinas, o Reino Unido espionou autoridades da Argentina durante anos, revelaram documentos vazados pelo ex-analista da NSA (Agência Nacional de Segurança dos EUA), Edward Snowden, na quinta-feira (02/04). A data marca o aniversário de 33 anos da guerra entre as duas nações.
Flickr/ Opera Mundi
O veterano Marcelo Vallejo visita o cemitério de Darwin, onde estão enterrados mais de 230 soldados argentinos nas Malvinas
Descrita como de “longa duração e de efeitos pioneiros”, a missão britânica que entrou em vigor em 2009 tinha o intuito de “prevenir a recuperação diplomática ou militar das Malvinas por parte da Argentina”. Ela também incluía “novas operações cibernéticas” para mudar a opinião pública a respeito do tema, apontam os documentos.
Conhecido como “Operação Quito”, o plano secreto contra os argentinos foi elaborado por um braço do GCHQ (Serviço de Inteligência britânico) chamado JTRIG (Joint Threat Research and Intelligence Group). A missão servia de “apoio de alta prioridade” para atingir os objetivos do Ministério de Relações Exteriores, segundo revelam os arquivos de Snowden.
O material foi disponibilizado exclusivamente a partir de uma parceria entre o veículo argentino Todo Noticias e The Intercept, site criado por Glenn Greenwald, jornalista norte-americano que revelou os escândalos de ciberespionagem da NSA vazados por Snowden. De acordo com um documento datado de junho de 2008, baseado em reuniões entre funcionários da NSA e representantes da GCHQ, a Argentina era “de interesse primário de GCHQ na região”.
Reprodução/The Intercept
Embora a extensão das táticas da missão britânica nas Malvinas não seja clara, o alcance das capacidades aprovadas pelo JTRIG oferece uma noção do que pode ter sido feito. Conforme documentos vazados no ano passado, o Serviço de Inteligência do Reino Unido fazia uso de “truques sujos”, como táticas que partiam de sexo para obter informações, lançamentos de vírus em computadores de alvos e espionagens de jornalistas e diplomatas.
Entenda o conflito
Desde 1833 o governo britânico administra e ocupa as Malvinas — também conhecidas como Falkland Islands — e rejeita apelos da Argentina e da comunidade internacional para abrir negociações a respeito da soberania da ilha.
Em 1982, houve uma guerra pela retomada do território. Após 70 dias de conflito, mais de 900 pessoas morreram e a Argentina saiu perdedora. A tensão ganhou um novo fôlego em 2010, quando os britânicos descobriram uma grande reserva de gás e de petróleo offshore, que poderia render bilhões de dólares.
Reprodução/ Intercept
NULL
NULL
Há dois anos, Londres fez um referendo com os pouco mais de 1.500 residentes da ilha, que optaram por permanecer sob o status de território além-mar britânico. Buenos Aires rejeitou a consulta popular, alegando que os habitantes foram colocados na região pelo Reino Unido e que, portanto, não tinham o direito de autodeterminação.
O último capítulo do conflito entre as duas nações aconteceu na semana passada, quando o país europeu anunciou que aportará US$ 268 milhões em infraestrutura militar no território que é reivindicado historicamente pelos sul-americanos.
“Enquanto a Argentina se apega ao direito internacional, a Grã Bretanha aposta no armamentismo nas Malvinas”, declarou o chanceler argentino, Héctor Timerman, na ocasião. Como resposta, o governo argentino disse também que apresentará uma denúncia no Comitê de Descolonização da ONU.
Governos não comentam caso
Procurado por The Intercept para explicar o papel da política externa britânica na América do Sul, GCHQ declarou que “não comenta a respeito de questões de inteligência”. A NSA não respondeu ao pedido do mesmo veículo para comentar o episódio.
Por parte da Argentina, autoridades da administração da presidência, a chancelaria e a Secretaria do Estado para Negócios das Malvinas se recusaram a comentar o caso e pediram primeiramente cópias desses documentos para análise.
Nesta sexta, a presidente argentina, Cristina Kirchner, que usa ativamente sua página oficial no Facebook, publicou fotos de sua visita às Malvinas ontem (02/03), na ocasião do 33º aniversário da guerra na ilha. Com a hashtag “MalvinasArgentinas”, a mandatária relembrou na rede social os mortos do conflito e saudou os veteranos de guerra sobreviventes.
Hoy en Ushuaia homenaje a nuestros héroes caidos en combate y ex combatientes. #MalvinasArgentinas https://www.youtube.com/watch?v=yQ8KkN4RHSU
Posted by Cristina Fernandez de Kirchner on jeudi 2 avril 2015