Documentos revelados pelo jornal britânico The Guardian mostram que Israel propôs a venda de armas nucleares à África do Sul em 1975, durante a vigência do regime segregacionista do apartheid. Essa é a primeira prova de que o estado judeu detém armamento nuclear, apesar de manter um posicionamento ambíguo sobre o tema e não ser signatário do Tratado de Não-Proliferação de Armas Nucleares.
As minutas de reuniões entre membros dos governos dos dois países, o ministro da Defesa sul-africano na época, PW Botha, e o então ministro da Defesa de Israel, Shimon Peres, revela uma oferta de armas “em três tamanhos” – convencionais, químicas ou nucleares. Peres é o atual presidente israelense.
Leia também:
Opinião: Escalada de sanções é atalho para ação militar contra Irã
Obama disse em carta a Lula que acordo com Irã criaria confiança
“Israel está fazendo muito dinheiro com a ocupação da Palestina”, diz economista israelense
Segundo o jornal britânico, os documentos foram descobertos pelo pesquisador norte-americano Sasha Polakow-Suransky, que estuda a relação entre Israel e África do Sul e escreveu um livro sobre o tema. Conforme diz a reportagem publicada ontem (23/5), o governo de Tel Aviv tentou evitar o vazamento das informações. Uma porta-voz de Peres disse que os documentos não têm fundamento e que nunca “houve qualquer negociação” entre os dois países. A funcionária, não identificada pelo jornal, não comentou a autenticidade do material.
As atas das reuniões mostram que os militares sul-africanos desejavam obter armas nucleares para ter um elemento de dissuasão ou até para potenciais conflitos contra países vizinhos. A compra não foi efetuada, escreve o The Guardian, devido aos custos e provavelmente pela necessidade do aval do primeiro-ministro na época, Yitzhak Rabin. Os dois ministros ainda assinaram um acordo de cooperação militar entre os dois países, sendo que o próprio acordo continha uma cláusula que determinava o mesmo deveria se manter secreto.
A revelação tem especial importância esta semana, haverá discussões na ONU sobre sanções contra o Irã – país adversário de Israel – devido ao programa nuclear do país persa. Os israelenses estão entre os países que mais pressionam pelas sanções. O segundo é que cairia por terra um possível argumento israelense de que, mesmo que tivesse armas nucleares, seria um país “responsável” o suficiente para mantê-las, uma vez que tentou vender o arsenal para outro país.
Vanunu
A existência de armas nucleares em Israel foi revelada em 1986 pelo ex-técnico nuclear israelense Mordechai Vanunu, em reportagem do também britânico The Sunday Times. Ele divulgou fotografias tiradas dentro no Centro de Pesquisas Nucleares de Negev, localizado no deserto de Negev, ao sul de Dimona e deu detalhes do funcionamento do local. Logo depois, Vanunu foi raptado em Roma por agentes do serviço secreto israelense (Mossad), e levado de volta a Israel, onde foi julgado e condenado por traição.
Vanunu, que passou 18 anos na prisão e foi solto em 2005, voltou a ser detido neste domingo para cumprir mais três meses de prisão. Ele foi condenado em dezembro passado a outros três meses de prisão ou três meses de trabalho comunitário por ter violado uma ordem que o proibia de manter qualquer contato com estrangeiros.
“Vergonha de vocês, Israel, que voltam a me enviar para a prisão após 24 anos, apenas pelo motivo de que contei a verdade”, disse Vanunu, em um comunicado citado pelo site do jornal Yediot Aharonot. “O que vocês não puderam obter ao me deixarem por 18 anos na prisão não conseguirão me prendendo por três meses”, afirmou.
Siga o Opera Mundi no Twitter
NULL
NULL
NULL