O presidente da Câmara dos Representantes dos EUA, o republicano Paul Ryan, afirmou nesta terça-feira (01/12) que o “denominador comum” de ataques com armas de fogo a civis são “doenças mentais” e pediu aos parlamentares norte-americanos que “fizessem mais” para proteger a população e “consertassem o sistema de saúde mental” do país.
Ryan se referia ao ataque da última sexta-feira (27/11) à clínica da ONG Planned Parenthood, que oferece serviços de saúde reprodutiva, inclusive aborto, em Colorado Springs, no Estado norte-americano do Colorado. O ataque deixou três mortos, entre eles um policial, e nove feridos. Robert Dear, um homem de 57 anos com histórico de extremismo religioso e violência contra suas ex-parceiras, invadiu a clínica, fez reféns e abriu fogo contra a polícia, se rendendo após cinco horas de tiroteio e negociações. Dear foi acusado por homicídio doloso e pode ser sentenciado à prisão perpétua ou à pena de morte.
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EFE
Paul Ryan defende projeto que reforma o sistema de saúde mental no país; segundo ele, as doenças mentais provocam ataques com armas
O posicionamento de Ryan foi criticado pelo Partido Democrata, que defende a revisão da legislação sobre venda e porte de armas nos EUA.
Em declaração à emissora Al Jazeera, Alan Abramowitz, professor de Ciência Política da Universidade de Emory, afirmou que o posicionamento de Paul Ryan não contempla os motivos dos ataques com armas de fogos nos Estados Unidos. “Ele está desviando a atenção de dois problemas importantes: um é a controvérsia sobre as leis de armamento e o outro é a possível influência da retórica extrema antiaborto que pode ter motivado o ataque na [clínica da ONG] Planned Parenthood”.
Vários políticos do Partido Republicano já fizeram agressivas declarações contra o aborto e contra a ONG, que defende os direitos reprodutivos e é frequentemente alvo de protestos de militantes antiaborto. Nos EUA, o direito ao aborto é garantido em âmbito federal e as clínicas da Planned Parenthood realizam o procedimento, além de outros serviços de planejamento familiar e saúde reprodutiva.
Um dos exemplos mais recentes é a declaração de Joanna Windholz, política republicana de Colorado, que nesta terça-feira culpou a ONG pelo ataque. “Violência nunca é a resposta, mas nós precisamos começar a apontar quem é o verdadeiro culpado. O verdadeiro instigador dessa violência e toda violência em qualquer estabelecimento da Planned Parenthood é a própria Planned Parenthood”, disse Windholz em declaração a um jornal do Estado.
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Abramowitz sugeriu também que o pronunciamento de Ryan possui um aspecto racial, já que a maioria dos ataques com armas de fogos são feitos por norte-americanos brancos e não são classificados como atos de terrorismo. “Desde o 11 de setembro, a maioria do terrorismo ocorreu por extremistas brancos de direita, não por árabes, muçulmanos ou outros grupos minoritários”, afirmou.
Jan Eastgate, presidente da organização Citizens Commission on Human Rights International, declarou à Al Jazeera que o uso de antidepressivos e outras drogas psiquiátricas é um fator que aumenta atos de violência. “Agências internacionais reguladoras de drogas fizeram 22 advertências que citam efeitos de mania, hostilidade, violência e até idealização de homicídio”, disse Eastgate.
Three die in shooting at Colorado clinic #PlannedParenthood and man arrested https://t.co/DfH5fMIgJc pic.twitter.com/RkepX1RvEx
— BBC News (World) (@BBCWorld) 28 novembro 2015
“Ao menos 35 tiroteios ou atos de violência em escolas foram cometidos por pessoas que tomavam ou estavam deixando de tomar drogas psiquiátricas, resultando em 79 mortos e 169 feridos”, afirmou Eastgate. Segundo ela, outros 25 atos de violência, que deixaram 251 mortos e 134 feridos, foram cometidos por indivíduos que estavam sendo medicados ou deixando o remédio.
Paul Ryan apoia uma reforma no sistema de saúde que cuida de pessoas com doenças mentais, que foi apresentada pelo parlamentar Tim Murphy, também do Partido Republicano, e está sob análise do Comitê de Energia e Comércio da Câmara. A proposta que tramita na Câmara inclui a criação de cargos no Departamento de Saúde para coordenar a saúde mental e aumentar o número de leitos em hospitais psiquiátricos.