Agência Efe (12/09/2012)
Dois anos após terremoto, obras de reconstrução, como a do Palácio Nacional, seguem longe do fim no Haiti
Dissolvidas há 17 anos após sucessivos golpes e uso político do aparato militar, as Forças Armadas do Haiti começam a dar sinais de que podem voltar a atuar de forma sem autônoma. Após implementação de plano de atuação conjunto à Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização no Haiti), o fortalecimento da força policial nacional é uma das principais bandeiras do governo de Michel Martelly, presidente eleito no ano passado.
Cerca de dez mil homens compõem atualmente o efetivo da PNH (Polícia Nacional Haitiana). O número de oficiais é quase três vezes maior do que em 2004, quando a Minustah começou a atuar no país. Auxiliando no desenvolvimento das tropas, a ONU presta treinamentos aos membros e defende uma reforma policial.
Segundo o tenente-coronel Lamellas, que foi chefe da comunicação social do 2° Batalhão de Infantaria de Força de Paz no Haiti no período de 1° de setembro de 2011 a 1° de maio de 2012, “a polícia nacional haitiana já tem autonomia”.
Oboré/Divulgação
Exército brasileiro só atua quando forças haitianas não dão conta, diz o tenente-coronel Lamellas
“Normalmente, quem acompanha as manifestações é a PNH. A partir do momento que eles não dão conta, quando a ocasião se torna agressiva, o Exército [Brasileiro] atua”, explica o coronel. Esse apoio internacional geralmente é prestado quando há patrulhamentos e contenções em áreas de risco médio, denominadas “amarelas”.
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Em março deste ano, o chefe da Minustah, Mariano Fernández Amunátegui, ressaltou a importância de uma reforma policial. “Para um país como o Haiti, de 10 milhões de habitantes, ainda é insuficiente”, considera sobre o número de dez mil policiais do país.
Dois anos após o terremoto que abalou o Haiti, as operações de patrulhamento para manutenção da paz são realizadas de forma conjunta entre Polícia Nacional Haitiana, Exército Brasileiro e UNIPOL (Polícia da ONU), além de sempre serem acompanhadas por um Juiz de Paz haitiano. “Quem efetivamente faz a prisão é a PNH, nós apenas damos um suporte, com autorização expressa do juiz emitida no momento”, esclarece Lamellas.
A última grande operação realizada pelo Exército Brasileiro no Haiti aconteceu no começo deste mês. Com o propósito de intensificar a presença militar na região de Delmas Leste, consistiu na execução de patrulhas a pé e motorizadas, bem como na realização de static points, com a finalidade de prevenir a ocorrência de crimes, coibir a prática de atos de vandalismo e evitar que a população haitiana sofra restrições à sua liberdade de locomoção.
Manifestações promovidas por ex-militares haitianos que querem voltar a servir são recorrentes. “No final do ano passado, o presidente Martelly falou que vai recriar as forças armadas, só que em nenhum momento foi especificado como será a recriação. Esses militares estão reivindicando para que sejam reintegrados à força”, explica Lamellas.
Progresso na estabilidade
O Haiti subiu sete posições no ranking do Índice Global da Paz durante o período entre 2010, quando houve o terremoto, e 2012. Hoje na 107ª posição, o índice do país caribenho é melhor analisado do que países como México (135ª) e África do Sul (127ª).
Além disso, não existem mais áreas diagnosticadas pela ONU como “vermelhas”, uma vez que as gangues foram desarticuladas. Bel Air e Cité Soleil foram as últimas regiões a serem pacificadas e passaram a ser designadas como “amarelas”. O termo classifica uma área sujeita a manifestações ou atuação de gangues e as patrulhas nessas regiões são feitas de forma conjunta entre PNH e UNIPOL, muitas vezes com apoio do Exército Brasileiro.
“Já estamos atingindo um ambiente seguro e estável e está começando novamente [antes do terremoto, a estabilidade estava sendo alcançada] o trabalho das organizações civis para tentar alavancar a economia do Haiti e reerguer o país”, explica o coronel, que ainda informa já ter havido redução de 280 homens das tropas brasileiras no Haiti, ocorrida em maio deste ano com a troca dos batalhões.
*Gabriela Zaniratto é estudante de Jornalismo e participa do XI Curso de Informação sobre Jornalismo em Situação de Conflito Armado e Outras Situações de Violência. Formalizado como curso de reportagens, é uma iniciativa do CICV (Comitê Internacional da Cruz Vermelha), em parceria com a OBORÉ Projetos Especiais em Comunicações e Artes e a Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo).