Agência Efe
O presidente egípcio, Mohamed Mursi (direita), durante a reunião com o líder de Hamás em exílio, Jaled Meshaal (centro), no palácio presidencial de Cairo
O plano da Irmandade Muçulmana do Egito de abrir a fronteira do país com a Faixa de Gaza anunciado em março deste ano parece ganhar corpo. Oficiais egípcios disseram nesta segunda-feira (23/07) que o governo deve facilitar a entrada e saída de palestinos, mas não remover todas as regras do bloqueio, informou o jornal local Ahram Online.
Segundo uma das fontes citadas pelo Ahram, Cairo pretende facilitar a concessão de vistos a palestinos, ampliando a definição de “casos humanitários”, e reduzir as restrições no ponto de controle em Rafah, única saída da Faixa de Gaza que não está sob o domínio de Israel.
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Oficiais da imigração, no entanto, não parecem ter sido informados do projeto. “Não existem planos, de que estamos cientes, de conceder vistos para longas estadias de palestinos”, disse um funcionário ao Ahram. De acordo com apuração do diário Egypt Independent, funcionários do aeroporto internacional do Cairo também não receberam ordens de permitir a entrada de palestinos sem vistos.
Apesar disso, outros veículos internacionais, como a agência Efe, Reuters e Associated Press, divulgaram nesta segunda-feira (23/07) que representantes do governo afirmaram que os palestinos não irão precisar mais de vistos para entrar no país.
Política interna
O governo do Egito não fez nenhum comunicado oficial que confirmasse as informações divulgadas hoje (23/07). O presidente recém-eleito do país, filiado a Irmandade Muçulmana, já demonstrou, entretanto, sua simpatia à causa palestina.
Agência Efe
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Na última quinta-feira (19/07), Mohamed Mursi reafirmou seu compromisso em facilitar a entrada de palestinos no país “apenas para visitas” durante reunião com o líder do Hamas, Khaled Meshaal, no Cairo. Em março deste ano, um porta-voz da Irmandade Muçulmana disse que abrir a fronteira do país era uma das prioridades do grupo.
O tema deve ser discutido novamente com a visita de Ismail Haniyeh, governante do Hamas em Gaza, que chegará ao Egito dentro de duas semanas. O político palestino, que já foi barrado na fronteira de Rafah em 2006, afirmou no início do mês que acredita na colaboração do novo governo egípcio.
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Por mais que a medida tenha conquistado o apoio do novo presidente, ainda deve encontrar restrições da Junta Militar do Egito, que ainda possui grande poder no cenário político do país e vínculos aos Estados Unidos, que doa cerca de 1 bilhão de dólares por ano ao país.
A secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, já demonstrou sua preocupação em sua visita ao país no último dia 14. Durante reunião com Morsi, Clinton refirmou a importância de o Egito manter o acordo de paz com Israel, estabelecido pelos militares egípcios no governo de Mubarak.
O bloqueio
As primeiras sanções foram impostas por Israel em 2001 quando palestinos tomaram às ruas contra a ocupação israelense e intensificadas em 2007 após as eleições legislativas que levaram o Hamas democraticamente ao poder. O Egito, sob o poder de Hosni Mubarak, apoiou a medida e também fechou suas fronteiras com Gaza.
Em junho deste ano, o bloqueio completou cinco anos e diversas organizações internacionais apresentaram documentos e pesquisas para reforçar o pedido para que as restrições sejam revogadas. “Por mais de quatro anos, mais de 1,6 milhão de pessoas em Gaza estiveram sob o bloqueio israelense, que viola leis internacionais. Mais da metade dessas pessoas, são crianças. Nós, os signatários, reivindicamos com uma só voz: acabem com o bloqueio agora”, afirma uma petição assinada por mais de 50 entidades de apoio a Palestina, incluindo as Nações Unidas.
Agência Efe
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De acordo com dados de diversas pesquisas, o bloqueio imposto por Israel tem consequências diretas na economia e vida dos palestinos que continuam extremamente dependentes da ajuda humanitária. Uma pesquisa da Save the Children indica que 10% das crianças com menos de cinco anos possuem problema crônico de desnutrição e 58,6% possuem anemia na Faixa de Gaza.
Com a queda da ditadura no Egito e a crescente pressão internacional ao país, o cerco a Israel parece se fechar. Tudo indica que o bloqueio deve se tornar mais ameno.