As eleições de hoje no México, consideradas uma prévia do pleito presidencial de 2012, deveriam custar caro para a agremiação no poder, o conservador Partido Ação Nacional (PAN). Várias pesquisas indicam que o mais beneficiado será o Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o país por mais de 70 anos e poderia se posicionar no pleito de domingo para disputar a presidência.
“O PRI é o mais provável ganhador da eleição. Falamos de um PRI com cerca de 38% dos votos nacionais”, afirmou o economista e cientista político Jorge Alcocer. Segundo ele, o PRI poderia conquistar entre 190 e 220 cadeiras de um total de 500 da Câmara dos Deputados. Já o PAN teria entre 50 e 60 cadeiras a menos no Congresso, enquanto o grande perdedor seria o esquerdista Partido da Revolução Democrática (PRD), que receberia apenas 16% dos votos.
Capacidade de mobilização
Vários fatores tornam este cenário possível. Destaca-se a forte queda de popularidade do partido no governo. Enquanto o maior trunfo do PAN – em termos de percepção – é o presidente Felipe Calderón, ainda que pelas intenções e não pelos resultados, em âmbito local os governos do PAN têm se mostrado tão ou mais decepcionantes que os antigos governos do PRI, incapazes de resolver os problemas da população e envolvidos em corrupção.
A terceira força política do país, o PRD, enfrenta situação similar. As disputas internas pelo controle do partido e as nomeações pouco democráticas, por parte da cúpula, de candidatos a cargos de eleição popular abalaram a imagem da agremiação. Além disso, recentes escândalos envolvendo funcionários governamentais do PRD com o narcotráfico parecem aumentar a percepção negativa deste grupo político.
Não é que o PRI seja melhor que os outros dois. A diferença é a enorme capacidade de organização e mobilização de sua base eleitoral ainda mantida em todo o país, à exceção da capital. Nem o PAN, nem o PRD contam com uma estrutura que garanta que, no dia da eleição, todos os seus partidários compareçam às urnas. Deverá ter papel importante na eleição o movimento de um grupo de cidadãos e formadores de opinião em favor do voto nulo, como forma de protesto.
Pequenas forças marginalizadas
Jesús Cantú, ex-conselheiro do Instituto Federal Eleitoral (IFE) e colunista do semanário de política Proceso, explica como o PRI será beneficiado se o índice de votos nulos for alto. A lei eleitoral mexicana diz que um partido político, para conservar seu registro e todas as prerrogativas legais, deve obter no mínimo 2% da votação total. O cálculo é feito sobre o total de votos emitidos, que inclui tanto os nulos quanto aqueles a favor de candidaturas não registradas.
Assim, “o voto de protesto terá o mesmo efeito sobre o cálculo da porcentagem obtida pelos partidos. Para começar, o movimento afeta as forças com menor participação eleitoral, pois quanto mais alta for a votação total, maior será o número de votos necessários para que se alcance os 2%”, explicou Cantú em artigo publicado nesta semana no Proceso.
No entanto, continuou o especialista, “na hora de dividir as cadeiras proporcionais e o financiamento público, a votação nacional emitida só inclui os votos dos partidos que conservaram o registro, o que beneficia aqueles que obtiveram maior participação eleitoral” – isto é, em primeiro lugar, o PRI, e depois o PAN e o PRD.
Por isso, apesar da desilusão, neste domingo os mexicanos poderão dar força e impulso ao partido que governou o país durante mais de 70 anos.
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