Durante seu discurso na 13ª Cúpula do Brics (bloco composto pelo Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), nesta quinta-feira (09/09), por videoconferência, o presidente Jair Bolsonaro mudou o teor do seu discurso geralmente hostil contra a China e disse que a parceria com o gigante asiático “tem se mostrado essencial para a gestão adequada da pandemia no Brasil”.
“Essa parceria tem se mostrado essencial para a gestão adequada da pandemia no Brasil, tendo em vista que que parcela expressiva das vacinas oferecidas à população brasileira são produzidas com insumos originários da China”, declarou.
O mandatário brasileiro chegou a atacar a vacina produzida na China Coronavac, em circunstâncias anteriores, e também chegou a chamar a covid-19 de “vírus chines”, insinuando que o coronavírus teria sido criado propositalmente pela China. O mesmo já foi dito por seu aliado Donald Trump, ex-presidente dos EUA.
Em maio deste ano, Bolsonaro declarou: “É um vírus novo, ninguém sabe se nasceu em laboratório ou nasceu por algum ser humano ingerir um animal inadequado. Mas está aí. Os militares sabem o que é guerra química, bacteriológica e radiológica. Será que estamos enfrentando uma nova guerra? Qual país que mais cresceu seu PIB? Não vou dizer para vocês”.
No encontro dos BRICS, o presidente elogiou também outros países participantes do bloco. Em relação à Índia, outro exportador de insumos, o chefe do Executivo destacou a parceria na pandemia.
“A parceria estratégica vive um excelente momento. Diversos instrumentos estão rendendo frutos e nossa cooperação tem avançado em especial nas áreas de ciência e tecnologia, sobretudo no combate à pandemia da covid-19”, afirmou.
Na reunião virtual, também estavam presentes os líderes da China, Xi Jinping, da Rússia, Vladimir Putin, da África do Sul, Cyril Ramaphosa e da Índia, Narendra Modi.
Marcos Corrêa/PR
Encontro ocorreu de forma virtual e contou com a participação dos líderes dos cinco países membros
Em sua fala na cúpula, o presidente russo disse que a retirada dos EUA do Afeganistão levou a uma nova crise no país e que ainda não está claro como isso afetará a segurança regional e global. Os antigos conflitos regionais não só não terminaram, como recomeçaram “com novo vigor”, disse.
Putin sublinhou que a Rússia, junto com os outros países do BRICS, deve prestar uma atenção especial à situação afegã e que seu país está disposto a continuar trabalhando em estreita colaboração com todos os Estados-membros do BRICS em todas as esferas.
Ele declarou ainda que “não estamos interessados em que o Afeganistão permaneça uma ameaça para os países vizinhos”, com terrorismo e tráfico ilegal de drogas. “Estamos interessados em parar o fluxo migratório. [Apoiamos] que os afegãos possam viver em paz e dignidade em sua terra natal”, afirmou.
Em declaração conjunta do Brics, o bloco afirma que a prioridade é “combater o terrorismo”, enfatizando a “necessidade de abordar a situação humanitária e de defender os direitos humanos, incluindo os das mulheres, crianças e minorias”.
A nota trata ainda sobre a vacinação contra covid, e destaca que há uma “gritante desigualdade” no acesso às doses, diagnósticos e terapias, “especialmente para as populações mais pobres e vulneráveis do mundo”.
O grupo também discutiu a importância de preservar o Plano de Ação Conjunto Global, ou acordo nuclear, pediu a prevenção da corrida armamentista no espaço sideral, fez um apelo à reforma dos principais órgãos da Organização das Nações Unidas (ONU) e o compromisso de discutir a reforma do Conselho de Segurança da ONU, de forma que Brasil, Índia e África do Sul tenham atuação mais abrangente, e por fim, defendeu uma reforma urgente da Organização Mundial do Comércio (OMC).