O presidente da França, Nicolas Sarkozy, diante dos líderes econômicos e políticos reunidos hoje (27) no Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, fez uma enfática defesa da intervenção estatal na economia, da regulação financeira e fez duras críticas aos excessos do capitalismo.
“Todos sabemos o que teria acontecido sem a intervenção estatal para manter a confiança e apoiar a indústria: o colapso total”, afirmou Sarkozy, ao abrir oficialmente a 40ª edição do evento.
“Não é uma questão de liberalismo, nem de socialismo, nem de direita, nem de esquerda: é uma realidade”, disse o presidente francês.
EFE
Sarkozy conversa com o fundador do Fórum Econômico Mundial, Klaus Schwab, em Davos
Ao longo do discurso, Sarkozy reiterou a necessidade de “voltar a pôr a economia a serviço do homem”. Ele ressaltou que “os desequilíbrios da economia mundial alimentaram o desenvolvimento das finanças globais”.
“Desregulamentamos as finanças para podermos financiar mais facilmente o déficit daqueles que consumiam demais com os excedentes daqueles que não consumiam o suficiente”, disse, em um mea culpa de um estadista que sempre defendeu políticas liberais para a economia.
O presidente francês alertou que o mundo, ainda em recuperação da crise, pode voltar a cair nela se não houver mudanças.
“Continuaremos fazendo a economia correr riscos insustentáveis e incentivando a especulação se não mudarmos a regulamentação bancária, as regras de prudência, as regras contábeis. Não reconciliaremos os cidadãos com a globalização, com o capitalismo,
se não formos capazes de fornecer um contrapeso ao mercado”, alertou Sarkozy.
Outro capitalismo
Aparentemente, para evitar equívocos diante da seleta plateia, Sarkozy fez a ressalva de que “não é o caso de perguntar por qual sistema vamos substituir o capitalismo, mas de saber que capitalismo queremos”.
Segundo o presidente francês, esse novo capitalismo deve ser aquele “no qual os comportamentos indecentes não sejam mais tolerados, nem aceitos os lucros excessivos que não tenham relação com a capacidade de criar emprego e riqueza”.
“Que aquele que crie emprego e riqueza possa ganhar muito dinheiro, não tem nada de errado. Mas que quem contribua para destruir empregos e riqueza também ganhe muito, é moralmente insuportável”, acrescentou.
“Ou mudamos por bem, ou a mudança nos será imposta por crises econômicas, sociais e políticas”, enfatizou.
Sarkozy se referiu também ao anunciado interesse do presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de evitar que as entidades financeiras assumam riscos excessivos em suas operações.
“O presidente Obama tem razão quando diz que é preciso dissuadir os bancos de especularem para si mesmos ou que financiem fundos especulativos”, disse.
Preocupação
Alguns comentaristas sugeriram que os dirigentes dos maiores bancos americanos aproveitarão sua visita a Davos para coordenar uma postura comum contra a intenção de Obama.
Segundo uma pesquisa mundial feita com 1.198 executivos-chefes de 52 empresas de todo o mundo e apresentada ontem pela consultoria PricewaterhouseCoopers em Davos, 60% destes executivos se mostraram “extremamente preocupados” ou “preocupados” com a ameaça de mais regulação.
Para Sarkozy, “esse debate não pode ser resolvido por um só país, seja qual for seu peso nas finanças mundiais. Esse debate deve ser decidido no G20” (Grupo dos Vinte, que reúne os países ricos e principais emergentes).
O presidente francês também citou “a imposição fiscal às transações financeiras para lutar contra a pobreza” como outro debate necessário.
Lula homenageado
Na sexta-feira (29), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve chegar a Davos, onde receberá o prêmio Estadista Global, concedido pela primeira vez pelo Fórum Econômico Mundial. O prêmio foi criado para comemorar o 40º aniversário do Fórum e, a partir deste ano, será entregue a políticos cujo trabalho contribua para “melhorar o estado do mundo”, lema do evento.
“O presidente do Brasil mostrou seu real compromisso com todos os atores globais. Seu compromisso foi de mãos dadas com sua luta contra a pobreza, sua busca pela justiça social, e sua ação para colocar o Brasil na vanguarda do crescimento econômico global”, disse o fundador do Fórum, o economista Klaus Schwab.
Ontem, Lula participou do Forum Social Mundial em Porto Alegre, onde disse que aproveitará o discurso em Davos para recriminar os países mais ricos pela crise financeira.
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