O governo da autoproclamada presidente da Bolívia, Jeanine Áñez, prendeu nesta quinta-feira (06/02) Gustavo Torrico, memebro da Assembleia Departamental de La Paz e militante do partido Movimento ao Socialismo (MAS). A prisão do parlamentar acontece durante o processo eleitoral que elegerá os próximos Legislativo e Executivo do país.
Torrico foi acusado pelo Ministério Público boliviano de ter cometido os crimes de “sedição e terrorismo” por declarações dadas dias antes do golpe de Estado que forçou a renúncia do ex-presidente Evo Morales em 10 de novembro. À época, Torrico acusou o golpe em curso e disse que defenderia o partido e o governo de Evo.
No momento da prisão, ao sair algemado de sua casa, o parlamentar disse que a sua detenção é totalmente ilegal e garantiu que nunca havia sido notificado das acusações. “Totalmente ilegal, me apresentei ao promotor, o homem veio à minha casa e eu saí [a seu encontro]. Da minha parte não há sedição, prenderam um militante e continuarei sendo um militante”, disse.
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A justificativa dada pelo MP se baseou em declarações de Torrico após as eleições gerais de 20 de outubro, que deram a vitória a Evo Morales. Segundo as autoridades, Torrico teria cometido os crimes ao dizer que defenderia o governo de Evo e ao questionar “quantas mães estão dispostas a sacrificar seus filhos” durante as ações violentas realizadas por grupos e partidos da direita que encabeçaram o golpe.
Pelo Twitter, Morales condenou a ação do governo boliviano e disse que a prisão de Torrico é mais uma ação do Estado de “não direito” da Bolívia. “Mais uma prova do Estado de não direito na Bolívia. A prisão de Gustavo Torrinco, deputado por La Paz, é ilegal. Minha solidariedade com Gustavo e sua família, vítimas do governo interino”, afirmou.
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O candidato à presidência pelo MAS, Luis Arce, também se manifestou e exigiu justiça à detenção de Torrico. Arce ainda criticou a falta de liberdade nas atividades políticas em “pleno processo eleitoral” na Bolívia. “Em pleno processo eleitoral na Bolívia, que supõe dar garantias para a livre atividade dos partidos políticos, detêm de maneira ilegal e violenta o companheiro Gustavo Torrico, deputado e militante do MAS”. disse.
ABI
Gustavo Torrico foi preso nesta quarta-feira, em La Paz
Após o golpe de Estado contra Morales, a escalada autoritária contra militantes e partidários do MAS gerou a prisão e o exílio de diversas figuras políticas do partido de esquerda. No dia 31 de janeiro, a advogada do ex-presidente, Patricia Hermosa, foi presa por autoridades de Áñez. Lideranças indígenas e sociais também foram detidas e perseguidas. Três ex-ministros do governo do MAS estão refugiados na embaixada do México desde o dia do golpe contra Evo e são acusados de “sedição”.
Já o ex-ministro de Governo Carlos Romero está preso desde o dia 14 de janeiro, quando foi “sequestrado em minha própria casa”, segundo as palavras do próprio militante do MAS. “Sou um perseguido político, sou neste momento um símbolo da perseguição política, não tenho garantias”, afirmou Romero no momento de sua prisão.
Análises eleitorais
O jornal El Deber afirmou nesta quinta-feira que as candidaturas do ex-chanceler Diego Pary, ao Senado, e de David Choquehuanca, à vice-presidência na chapa de Arce, serão revisadas no domingo (09/02), último dia de análise dos candidatos pelo Supremo Tribunal Eleitoral (TSE). Ambos os candidatos são do MAS.
Segundo o periódico, o argumento é em relação ao tempo de permanência que cada um tem no país. Choquehuanca, por exemplo, esteve fora da Bolívia nos últimos dois anos, quando era embaixador geral da Alba na Venezuela.
Pary, que ocupava o cargo de ministro das Relações Exteriores no governo Morales, também está sendo alvo dos entraves do TSE pelo requisito de permanência no país por seu papel como representante permanente na Organização dos Estados Americanos (OEA) na Bolívia, de 2011 a 2018.
O presidente do TSE, Salvador Romero, disse que o órgão não comenta casos específicos e que a Constituição boliviana prevê “uma residência de cinco anos para se candidatar à presidência e vice-presidência” e de “dois anos para parlamentares”.