Na segunda e última missa campal realizada no Equador, o papa Francisco, criticou governos autoritários e o individualismo e comparou a “revolução” defendida pela Igreja na América Latina com os processos de independência vivenciados pela região há 200 anos. De acordo com dados oficiais, cerca de 1,2 milhão de pessoas compareceram ao Parque Bicentenário, em Quito, para acompanhar o sumo pontífice.
Além do presidente do país, Rafael Correa, o mandatário haitiano, Michel Martelly, e o vice-presidente de El Salvador, Oscar Ortiz, assistiram à celebração.
Agência Andes
“Evangelizar é nossa revolução”, afirmou Francisco
Os fiéis, que começaram a se concentrar no local da missa na segunda-feira (06/07), enfrentaram frio e chuva, acampados, na esperança de pegar um bom lugar para ver Francisco. Ainda molhado pela chuva, Abel Gualoto, de 59 anos, que estava no local com sua mulher e filho, disse não se arrepender: “É claro que vale a pena estar aqui, apesar do clima. A alegria de ver o papa nos dá o calor que precisamos”, como afirmou à agência AP.
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“Àquele grito de liberdade (…) não faltou convicção nem força, mas a história nos conta que só foi contundente quando deixou de lado os personalismos, o afã de lideranças únicas”, afirmou Francisco ao comparar a “revolução” defendida pela Igreja na América Latina com o processo de emancipação das colônias, que, segundo Bergoglio, nasceu da “consciência da falta de liberdades, de estar sendo oprimidos e saqueados”.
Ele acrescentou que “é impensável que brilhe a unidade se a mundanidade espiritual nos faz estar em guerra entre nós, em uma busca estéril de poder, prestígio, prazer ou segurança econômica e isso à custa dos mais pobres, dos excluídos, dos mais indefesos, que não perderam sua dignidade, apesar de ela ser atacada diariamente”, disse Francisco durante o sermão.
Agência Efe
Em 1985, o papa João Paulo reuniu cerca de 300 mil pessoas em Quito, menos da metade dos fiéis que se concentraram na capital nesta terça
Ele ressaltou a necessidade de lutar pela inclusão em todos os níveis, evitando o egoísmo e incentivando o diálogo. Francisco disse ainda que “vivemos em um mundo de guerras e violências, em meio a uma divisão e ao ódio que não afeta somente os países, mas são manifestações de individualismo que separam e enfrentam as pessoas”.
Após a celebração, o papa percorreu o parque, de carro, para saudar as pessoas. No caminho, pediu que a equipe de segurança levantasse uma mulher, de cem anos, que estava em uma cadeira de rodas, que foi beijada, abraçada e benzida por Francisco.
Divulgação/ captura de tela
Mulher disse não acreditar no que estava acontecendo
Política
Ontem, o papa se reuniu, a portas fechadas, com Rafael Correa no palácio do Carondelet, sede do governo. Antes do encontro, que durou 35 minutos, Francisco voltou a quebrar o protocolo e saudou os fiéis que estavam na Praça da Independência, em frente ao edifício. Na sequência, ele seguiu a pé para a catedral metropolitana de Quito, que fica a 50 metros da sede do palácio.
Da catedral, o pontífice pediu que “não haja diferenças, não haja excluídos, que não haja pessoas descartadas e que todos sejam irmãos, que se incluam e que nenhum esteja fora da grande nação equatoriana”.
Agência Efe
Papa Francisco na noite desta segunda na companhia de Correa ao saudar fiéis que o esperavam próximo ao palácio presidencial
Apesar do temor inicial do governo e de episódios isolados de manifestação de descontentamento com Correa, não houve nenhum incidente político por parte da oposição do país.
O Equador vivenciou, antes da chegada de Francisco, intensos protestos contra as propostas realizadas pelo mandatário ao Parlamento para taxar grandes heranças e impedir a especulação imobiliária no país.
Diante do descontentamento, o mandatário retirou as propostas e chamou os setores opositores para um debate nacional, considerando, inclusive, a realização de uma consulta popular sobre os temas. Ainda assim, os protestos foram mantidos. De acordo com o ministro do Interior, José Serrano, a inteligência do país havia detectado que opositores tinham como objetivo inviabilizar a visita papal.
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Bolívia e Paraguai
Francisco permanece no Equador até quarta-feira (08/07), quando seguirá viagem para Bolívia e Paraguai, respectivamente.
Nesta terça (07/07), o presidente boliviano, Evo Morales, informou que o país já está com tudo pronto para receber o papa, que chegará amanhã a La Paz, capital do país.
No Paraguai também estão sendo realizados os últimos ajustes para recepcionar o líder da Igreja Católica. Com receio de que movimentos sociais realizem protestos durante a passagem de Francisco pelo país, o governo do presidente Horácio Cartes proibiu o uso de cartazes com referência à “luta social, a favor ou contra o aborto, casamento gay e camponeses sem-terra”, como informou a Polícia Nacional.
Agência Efe
Fé também ajudou a movimentar comércio equatoriano
Isso porque organizações camponesas, indígenas, de trabalhadores e estudantes anunciaram mobilizações para a visita do pontífice, que consideram motivar “uma maquiagem” dos problemas do país, uma vez que ele não tomará conhecimento dos principais conflitos paraguaios, como o vivenciado no campo e por povos ancestrais.
Francisco deve se reunir com algumas organizações em seu segundo dia de visita, um evento a que algumas associações convidadas.
Segundo cálculos da Senatur (Secretaria Nacional de Turismo), o número de turistas no Paraguai pode superar um milhão de pessoas, a maioria da Argentina. Além dos argentinos, a expectativa é de que pelo menos cem mil brasileiros cruzem a fronteira para acompanhar o papa.