Agência Efe
Um espanhol contempla a devastação decorrente dos incêndios em Ávila na região de Leão e Castela
Enquanto a Espanha enfrenta os piores incêndios dos últimos 20 anos, aumentam denúncias de que os cortes orçamentários do governo também são responsáveis pela tragédia.
Segundo moradores das localidades afetadas, as autoridades espanholas reduziram os gastos com medidas preventivas e diminuíram o número de bombeiros nas regiões. Como consequeência, esses cortes resultaram no aumento das incidências de incêndio e nosseus impactos. Desde o início deste verão, em julho, oito pessoas morreram e pelo menos 140 mil hectares foram destruídos por incêndios.
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Apenas na ilha de La Gomera, no arquipélago das Canárias, estima-se que os prejuízos por conta do fogo tenham ultrapassado 70 milhões de euros e que dezenas de pessoas perderam suas casas. Em um dos episódios mais dramáticos, pai e filha morreram tentando fugir das chamas em Girona, no noroeste da Espanha.
“Dois dos meus colegas morreram há duas semanas”, contou Roberto Rubio ao jornal britânico The Guardian, um bombeiro de Andilla se referindo a um acidente com dois agentes que procuravam controlar o fogo em Alicante. “Em 15 anos lutando contra incêndios, eu nunca vi nada assim”, completou.
Uma grande parte de Andilla não foi atingida pelos incêndios se deve a uma iniciativa de Rubio e do prefeito local, Jesus Ruiz, de recolher os restos de matéria orgânica que poderiam contribuir para mais incêndios. Desde o ano passado, funcionários do município realizam esta ação preventiva que parece ter funcionado.
Agência Efe
Um tronco ardendo em fogo em uma zona afetada pelo fogo nas proximidades de Tabuyo del Monte
Além disso, o governo regional de Valencia contratou apenas um décimo dos bombeiros para a temporada do verão em decorrência dos cortes orçamentários, informou Rubio. “O corpo foi abandonado já que este ano o governo valenciano não destinou nenhuma ajuda para combustível, seguros e materiais para os voluntários realizarem seu trabalho”, afirmou Antonio Berenguer, que realiza anualmente trabalho para conter o fogo no Vale d’Albaida.
De acordo com Juan Carlos Mellado, membro da Confederação das Associações dos Vizinhos da Comunidade, este ano cortaram 31 brigadas florestais, restando apenas 43 grupos. No noroeste da Catalunha e nordeste da Galicia, as autoridades estão gastando 20% menos com estes oficiais do que nos dois anos anteriores.
Depois da redução no número de funcionários, os bombeiros têm de viajar distâncias maiores para conter o fogo. Para o Greenpeace, organização de meio ambiente internacional, os cortes nas políticas de gestão florestal não são as causas dos incêndios, mas estão relacionados com a intensidade com que o fogo se espalhou.
Revoltados com a situação nas áreas afetadas pelos incêndios e com o descaso das autoridades de Valência, espanhóis protestaram no dia 28 de julho em Torre de Serranos sob o lema “Abandonados, demitidos e queimados”. A manifestação foi organizada pela Plataforma de Afetados pelos Incêndios que exige investigação das causas políticas do fogo e indenização àqueles “que tiveram seu meio de vida afetados”.
Austeridade
A Espanha enfrenta uma das piores crises econômicas de sua história. Até 2014, o governo espanhol deve economizar 65 bilhões de euros de seu orçamento público. Esta foi a condição imposta pela União Europeia ao empréstimo bilionário negociado com o governo no dia 9 de julho, realizado para recapitalizar os bancos nacionais.
Enquanto as instituições financeiras recebem o apoio financeiro do Estado, o presidente degoverno espanhol, Mariano Rajoy, anunciou que irá realizar cortes severos do orçamento público e drástico aumento dos impostos. Como consequência disso, os governos regionais devem realizar ainda mais cortes em seus orçamentos.