O olhar é tranqüilo, porém, o terror ainda pode ser observado no semblante de Jens Tranum Kristensen, alto-funcionário da ONU (Organização das Nações Unidas). Há cinco anos no Haiti, o dinamarquês, de corpo alto e magro, trabalhava em seu escritório em Porto Príncipe no dia 12 de janeiro, quando o edifício da entidade veio abaixo. Nessa entrevista ao Opera Mundi, Kristensen conta como foi ficar por cinco dias sob os escombros, até que equipes de resgate o encontraram no domingo (17). Sem um ferimento sequer.
Simone Bruno/Opera Mundi
Qual foi o pior momento?
Desde o princípio eu estava lúcido, e sabia que estava soterrado. Percebi que não havia me ferido, pois conseguia movimentar os braços, as pernas e tinha bastante espaço. Podia me mover, pensar, até escutar de longe o barulho na rua. Me perguntava constantemente quanto tempo um corpo sem feridas, água e comida aguentaria. Quanto tempo irei resistir? No entanto, o pior momento foi quando, por volta do terceiro dia, percebi que estava perdendo controle sobre a minha mente. Não sabia se estava acordado ou dormindo, sonhando durante os dias de espera. Angustiei-me, pois até ali havia me controlado, mantido a mente ocupada, procurando objetos que serviriam no pouco espaço de tempo que teria. Uma cafeteira, meu telefone – sem sinal –, algumas folhas de papel, pedaços de ferros para fazer barulho.
O senhor teve esperança que iriam salvá-lo?
A esperança era cíclica, ia e voltava. Mas na maior parte do tempo, tratei de não pensar se alguém me encontraria. Preferi manter a cabeça ocupada e dormi muito. Tentei me comunicar o máximo que pude, porém, como não sabia quanto tempo iria demorar até ser encontrado, me forcei a descansar, a guardar forças. Logo, gritava e fazia sons quando não havia barulho nas ruas. E de fato, me encontraram assim. Assim que confirmaram que eu estava debaixo dos escombros, começaram a operação de resgate, que demorou de três a quatro horas – as mais longas da minha vida.
Como o senhor conseguiu se salvar durante o terremoto?
Assim que veio o primeiro tremor, muito forte, me joguei debaixo da mesa. Foi automático. Eu estava no terceiro andar e não percebi de imediato o que havia acontecido. Depois vi que era um terremoto e que eu estava preso. Os bombeiros que me resgataram disseram que foi uma sorte, pois meu andar foi comprimido até o nível da rua. Não havia percebido isso. Fiquei protegido por uma estranha jaula formada pela mesa, algumas cadeiras e pedaços do muro.
Que tipo de acompanhamento psicológico foi dado? Quando o senhor retornará para a Dinamarca?
Me ofereceram ajuda psicológica, mas me sinto bem. Talvez não precise. E por enquanto não quero voltar ao meu país. Quero ficar no acampamento da ONU, pois tenho competências importantes com a missão. Precisam de mim.
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