Quem diria que Europa e América Latina compartilham dificuldades para distribuir seus filmes? Talvez a convicção de que a maioria dos países europeus goza de melhores condições sociais e culturais afaste essa ideia, mas o fato é que tanto a cinematografia europeia quanto a latina estão dominadas pelo cinema comercial de Hollywood e enfrentam obstáculos parecidos para distribuir e exibir títulos do chamado circuito independente. Filmes europeus não circulam na Europa, e vice-versa.
O diagnóstico não é novo, mas nos últimos meses ganhou atenção e resultou na criação de um projeto de cooperação com participação de 30 profissionais latino-americanos e europeus de difusão cinematográfica, batizado de Cine Sin Fronteras (CSF).
A iniciativa nasceu com o objetivo de facilitar a circulação de filmes latinos e europeus em ambas as regiões, através de associações cinematográficas, entre elas duas redes de distribuidores independentes europeus, que se reuniram para pensar em soluções concretas para o problema. O apoio financeiro foi dado pela União Europeia.
As duas primeiras reuniões aconteceram de 23 a 25 de fevereiro na Cidade do México, durante a 6ª edição do Festival de Cinema Contemporâneo do México (FICCO), e de 23 a 25 de março, durante a 21ª edição dos Rencontres des Cinémas d’Amérique Latine de Toulouse, na França.
“Víamos inicialmente a oportunidade de conhecer colegas e falar de dificuldades comuns. Mas os encontros foram ainda mais produtivos: assinamos um acordo e criamos a primeira rede de distribuidores latinos”, contou ao Opera Mundi uma das participantes do projeto, a colombiana Ana Catalina Uribe, diretora do Centro Colombo-Americano de Medellín.
O acordo em questão foi batizado de Tlatelolco e assinado no México por distribuidores e exibidores de oito países latino-americanos. Depois de definir bases de cooperação, o documento evoluiu para a criação da Felcine, a Federação de Exibidores e Distribuidores de Cinema Independente da América Latina.
“A existência de companhias que controlam toda a cadeia cinematográfica é um problema para os distribuidores independentes da América Latina. Na Europa, foram criadas redes para construir uma alternativa à hegemonia americana, algo que lamentavelmente até agora não existia na América Latina”, declarou Adeline Monzier, uma das organizadoras do CSF.
Democratização
Entre os objetivos da federação – a primeira do cinema latino –, estão a democratização dos cinemas, a formação de público, a garantia de circulação de filmes europeus e latinos e a luta contra a pirataria. Haverá encontros regulares para a discussão de temas como a adoção de novas tecnologias (cinema digital e VOD, video on demand) e, a partir de 2010, a criação de mostras de cinema latinas e europeias em ambas as regiões.
“Será uma maneira de escoar a intensa produção de filmes brasileiros, que hoje recebem apoio da lei do audiovisual para serem realizados, mas permanecem estancados, sem opções de distribuição”, disse Eduardo Cerqueira, distribuidor brasileiro envolvido no projeto.
Abaixo, cena do mexicano Lake Tahoe, sem previsão de estréia no Brasil, assim como o argentino A Mulher sem Cabeça, no início da reportagem. Créditos: Variety e La Nación, respectivamente.
* Editora do site La Latina.
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