Dave Harris/Divulgação
Homofobia é lugar-comum nos estádios de futebol da Inglaterra, assim como em outros ao redor do mundo. Mas a partir de agora, se depender da Football Association (FA), a CBF inglesa, torcedor nenhum poderá considerar a arquibancada área de exceção. Ofensas a jogadores passaram a ser enquadradas no novo plano de ação da FA, o LGBT Football, como comportamento discriminatório.
Esta é a primeira vez que a FA, de fato, toca no assunto e tenta por no papel um plano para banir a homofobia do futebol inglês. No entanto, por mais válida e inovadora que seja, a atual iniciativa foi aplaudida no estádio de Wembley, em Londres, como um amistoso que acabou no zero a zero.
No material divulgado pela FA, durante o evento “Opening Doors and Joining In”, no dia 20 de fevereiro, há muita intenções, mas nada de medida prática. Tirando um número de telefone de denúncias homofóbicas, tudo ali é só planejamento.
A cartilha anti-homofobia do futebol inglês tem ao todo 20 páginas – muito mais ambiciosa do que panfleto de 10 maus exemplos, distribuído nos estádios, em 2006. E, mesmo assim, foi alvo de críticas. “Não há nada de concreto ou específico. E é triste dizer, mas não se trata de uma iniciativa que vai causar algum impacto na maioria das pessoas”, avalia o ativista de direitos humanos Peter Tatchell (na foto acima), ex-líder da Gay Liberation Front (GLF), que estava presente no dia do lançamento.
Segundo ele, para entrar em pauta e alcançar os torcedores, a Football Association deveria pressionar os times a incluir mensagens anti-homofóbicas nos ingressos, por exemplo. Ou mais do que isso: exibir frases de campanhas contra esse tipo de discriminação no intervalo entre primeiro e segundo tempo dos jogos.
“Time inglês nenhum apresenta um plano que ofereça algum apoio ao jogador que revelar ser gay ou bissexual, como afirmação pública de sua decisão, assistência a ele e seus colegas em como falar com a imprensa, e como lidar com a reação dos times rivais. Isso sim traria inclusão”, emenda.
Quatorze anos depois
O caso de homossexualidade mais conhecido no futebol inglês teve um trágico final em 1998: o suicídio do jogador Justin Fashanu, o primeiro profissional da série A a admitir em público ser gay. Foram oito anos de uma relação conflituosa com a própria imagem e com a família. Seu irmão, John Fashanu, também era jogador profissional e não aceitava ser ridicularizado pelos colegas.
Pouco antes do suicídio, Justin foi acusado de ter abusado sexualmente de um adolescente, nos Estados Unidos. E se matou deixando uma carta em que dizia que aquilo não era verdade, mas que por ser homossexual, seria tratado injustamente. Por isso, era melhor morrer – uma desgraça que abalou a história do futebol na Inglaterra, e que hoje sobrevive com a The Justin Campaign, uma fundação que luta para combater a homofobia no futebol.
Reprodução/FA
Imagem do Plano LGBT Football, da FA: “quando você é parte de um time, você nunca está sozinho”
O atual plano LGBT chega a ser o começo de uma resposta ou uma medida de prevenção para que casos como o de Justin se repitam. “Já estava ficando vergonhoso para a FA não ter um projeto assim”, revela Tatchell. “Foi um coro de críticas aos comandantes e vários pedidos para que alguma coisa fosse feita que forçou a federação a tomar uma atitude contra homofobia. Vários dirigentes deixaram o assunto de lado, até que não deu mais.” Tardio, mas válido. Válido, mas ainda pouco prático.
Um dos mais ricos do mundo, com investimentos de magnatas russo e árabes, o futebol inglês passa por uma fase polêmica com seus recentes casos de racismo, como o exemplo do uruguaio Luis Suárez, do Liverpoool, contra o francês Patrice Evra, jogador do Manchester United, entre outros. Lançar agora um plano contra a homofobia é importantíssimo pelo caráter do projeto. Mas também pode ser uma boa tática de retomar a imagem, ainda que seja com uma jogada mal acabada.
O vídeo a seguir “Let's Kick Homophobia Out The Football”, de 2011, é um passo à frente da campanha Let's Kick Racism Out the Football, de 1996. Nele, o protagonista agride verbalmente o jornaleiro, colegas de escritório, pessoas no elevador. No final, a reflexão: “Se esse tipo de comportamento não é permitido nas ruas e em nenhum outro ambiente, por que está liberado no estádio de futebol? “
NULL
NULL
NULL