A oposição de Honduras se mobiliza para que o presidente deposto Manuel Zelaya não volte a governar o país. Alguns defendem a permanência de Roberto Micheletti, que assumiu a presidência após um golpe de Estado no dia 28 de junho. Outros pedem que as eleições, marcadas 29 de novembro, sejam antecipadas. Em geral, argumentam que Zelaya adotou postura anti-democrática nos últimos anos.
A oposição é formada majoritariamente por empresários, pela maioria dos parlamentares, pelos partidos Nacional, Democrata Cristão e Liberal – Zelaya foi eleito por este último. Há hondurenhos que afirmam que o golpe foi planejado pelo Congresso, com apoio do setor empresarial e do Exército.
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O presidente do Cohep (Conselho Hondurenho da Empresa Privada), Alejandro Alvarez, disse em entrevista ao Opera Mundi que Zelaya está “apenas vivendo as conseqüências de uma tentativa de totalitarismo”.
Para o Cohep, que reúne 62 organizações de empresários dos setores industrial, agrário, de serviços e comércio, a posse de Micheletti e a deposição de Zelaya não é uma troca de presidentes. “É uma tentativa de conseguir unidade nacional e de manter respeito à Constituição”.
Na avaliação dos opositores, Zelaya foi autoritário e anti-democrático ao convocar um referendo para saber se a população quer uma quarta urna nas eleições de novembro próximo, dedicada a escolher membros de uma eventual Assembleia Constituinte – o referendo teria sido realizado há dois fins de semana, quando o presidente foi deposto. De acordo com a legislação hondurenha, a solicitação de consultas populares deve ser feita pelo Congresso.
Os opositores também alegam ter medo de que uma eventual nova Constituição possibilite a reeleição de Zelaya e sua perpetuação do poder, mesmo o presidente tendo afirmado que nunca teve essa intenção – não existe reeleição no país.
Para o deputado José Adolfo, do Partido Nacional, Zelaya não pode ficar na presidência, pois violou a lei. “Apóio a paz, o trabalho e o país. Zelaya passou por cima do poder legislativo”.
Para o conservador Partido Democrata Cristão, a “aventura mais perigosa de Mel [apelido do presidente] foi sua mutação de liberal a socialista”. Na avaliação do Partido Nacional, o principal opositor, a postura de Zelaya, “discípulo de Hugo Chávez”, o impede de exercer o cargo de presidente.
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O presidente do Cohep nega que os empresários tenham uma relação próxima com o Congresso. “Nós temos amigos deputados, como qualquer um. Mas não há influência política. Apenas fazemos propostas para melhorar a economia do país, que é o nosso papel”.
“Como instituição, não estamos apoiando a pessoa Micheletti. Apoiamos as decisões do Congresso, do poder legislativo, a restituição do Estado de direito”, disse Alvarez.
Economia
Na atual crise político-institucional, a política econômica de Zelaya não é tão criticada como era há alguns meses e também não é apresentada como justificativa para o golpe. Na avaliação do deputado José Adolfo, que é comerciante, a administração de Zelaya “não foi ruim, foi igual às anteriores”. Mas, para o ex-presidente e candidato à presidência pelo Partido Liberal, Elvin Santos, a situação econômica de Honduras nunca esteve tão ruim.
Em maio deste ano, o Cohep criticou a ausência de medidas econômicas para amenizar os efeitos da crise mundial, afirmando que o presidente estava mais preocupado com políticas sociais do que com o estímulo ao emprego.
O setor critica o aumento do salário mínimo, que foi de 60% desde 2006. O valor atual é de 5.500 lempiras (611 reais) na zona urbana e 4.055 (450 reais) na rural – ante 465 reais no Brasil.
O Conselho afirma que o reajuste desestimula o trabalho formal. O desemprego não aumenta desde 2006, mas o índice é alto: 28% em média, segundo dados da Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) e do instituto de pesquisa Index Mundi.
Antecipação das eleições
Para o presidente do Cohep, Alejandro Alvarez, a próxima eleição será a única maneira de resolver a crise político-institucional de Honduras. O deputado José Adolfo, do Partido Nacional, disse que a solução seria convocar eleições para solucionar os problemas internos e evitar as possíveis conseqüências de um boicote de países que não reconhecem o governo de Micheletti.
Micheletti disse que aceitaria a antecipação do pleito, previsto para o dia 29 de novembro, e afirmou que o vencedor deverá ser reconhecido por todos os governos, pois terá sido escolhido em um processo interno transparente. Zelaya respondeu que só um governo legítimo poderia tomar esta decisão.
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