Na primeira manifestação pública após o fracasso das negociações para a crise em Honduras, mediada pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias, o presidente golpista, Roberto Micheletti, convidou observadores independentes a ingressarem em Honduras para que se prove a não existência de violência no país. “Estamos sendo intimidados pelo exterior. Aqui dentro estamos vivendo a paz que queremos”, comentou ontem (20). No domingo (19), a secretária de Estado, Hillary Clinton, telefonou ao presidente golpista e o advertiu que caso as negociações fracassem, Washington suspenderá ajuda à nação.
Micheletti pediu um emissário para que conheça a situação no país. “Disse para, por favor, enviar alguém de confiança, alguém com quem ela possa ter um diálogo verdadeiro e que lhe diga se é certo afirmar que neste país há mortos a cada momento”, disse.
O presidente golpista também quer que o eventual enviado verifique se “há pessoas presas” ou se “há ultraje a crianças ou à dignidade do ser humano”. Além disso, convocou “todos os organismos de direitos humanos do mundo inteiro” para que “tomem conhecimento do que realmente está acontecendo” em Honduras.
Philip Crowley, porta-voz do departamento de Estado, detalhou que a chefe da diplomacia norte-americana realizou uma ligação telefônica “muito dura” para Micheletti. ” Ela o incentivou a seguir concentrado nas negociações e o ajudou a compreender as consequências potenciais de fracassar a tentativa de tirar proveito desta mediação”, disse Crowley.
Questionado sobre quais seriam essas “consequências potenciais”, ele citou “um impacto significativo no término da ajuda e eventuais consequências a longo prazo para as relações entre Honduras e Estados Unidos”, encerrou.
Pressão internacional
A pressão contra o golpe de Estado em Honduras se seguiu. A União
Européia cancelou ajuda de 100 milhões de dólares e o Brasil suspendeu
a aplicação de projetos de ajuda técnica hoje (21), de acordo com o
Estado de S. Paulo.
Na sexta-feira (17), o ministro das Relações
Exteriores, Celso Amorim, manifestou à Hillary preocupação com a
lentidão e o encaminhamento das negociações para o restabelecimento da
normalidade democrática em Honduras, segundo a Folha de S. Paulo.
O ministro informou à secretária de Estado -que foi quem patrocinou a mediação de Arias- que o Brasil não aprova a possibilidade de que os golpistas imponham condições para a volta e muito menos um governo de coalizão entre os dois grupos.
Se um acordo assim for selado, na avaliação brasileira, estará caracterizada uma vitória dos golpistas, o que serviria como estímulo a novos golpes na América Latina.
Vários países congelaram programas de cooperação e retiraram
embaixadores. Os Estados Unidos congelaram apenas 16,5 milhões de
dólares dos 180 milhões em ajuda, argumentando tanto razões
humanitárias como a necessidade de usar o dinheiro como forma de
pressão nas negociações. Washington também não retirou o embaixador.
Honduras busca apoio
Em busca de apoio, uma comitiva formada por representantes do governo golpista viajou ontem à noite para a Colômbia, conforme afirmaram fontes do governo golpista ao jornal hondurenho La Prensa. Logo após o golpe de Estado, em 28 de junho, o presidente colombiano, Álvaro Uribe, defendeu o princípio da “não intervenção” nas relações de Honduras.
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