O primeiro-ministro do Reino Unido, Gordon Brown, disse hoje (26) que é necessário injetar no mínimo 100 bilhões de dólares no mercado internacional para impulsionar o comércio exterior.
“O G20 tem que dar um passo à frente para tomar medidas que revertam a
falta de crédito que fez 'secar' o comércio mundial”, afirmou Brown, que está no Brasil para uma visita de um dia.
O ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, disse que a proposta, tornada pública por Brown, vem sendo discutida há muito tempo pelos dois países. Afirmou que a queda no comércio é o “mais recente” efeito adverso da crise e que as exportações vão cair no mundo todo pela primeira vez em 30 anos. Por isso, incentivou medidas urgentes como esta, que deve ser anunciada na próxima cúpula do G20, grupo de países ricos e principais emergentes, dia 2 de abril, em Londres.
Amorim afirmou que o Brasil está “totalmente de acordo” e “disposto a colaborar”, mas afirmou que “é preciso amadurecer” a ideia e “afinar os termos”, para garantir que a injeção de recursos não afete as reservas internacionais do Brasil.
Olhos azuis
No encontro, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que a crise foi “causada, fomentada por comportamentos irracionais de gente
branca de olhos azuis que antes da crise parecia que sabiam tudo e
que agora demonstram não saber nada”. Ele ressaltou que não é justo os pobres pagarem o preço.
Questionado por um jornalista se a afirmação não teria um viés ideológico, Lula respondeu: “Como eu não conheço nenhum banqueiro negro ou índio […], só posso dizer que não é possível que esta parte da humanidade, que é a mais vítima do mundo, pague por uma crise. Isso não é possível”.
Protecionismo e Doha
Além desta medida, o líder britânico ressaltou que é preciso prevenir o protecionismo e “dar nome” aos países que descumprirem acordos comerciais, para que sejam vigiados pelos mecanismos de supervisão da OMC (Organização Mundial do Comércio).
Brown disse também que, na cúpula do G20, será definida a retomada das negociações da Rodada do Desenvolvimento de Doha, que representará um impulso ao comércio mundial.
O líder britânico também afirmou que o Consenso de Washington, que definiu o receituário neoliberal dos anos 90, “morreu” e pediu a construção de um novo paradigma, a partir da reforma do FMI (Fundo Monetário Internacional) e do Banco Mundial, para que tenham “mais transparência, abertura e credibilidade”.
O Brasil vem defendendo essa reforma insistentemente, argumentando que os países em desenvolvimento devem ter mais voz nas entidades de crédito. Hoje, Lula voltou a defender a regulação do sistema financeiro internacional. “Não é possível uma sociedade em que você entra no shopping ou no aeroporto e é filmado, sempre vigiado, e o sistema financeiro não ser vigiado e não ter uma regulação”.
Ativos podres
Lula não demonstrou ânimo em relação à eficácia do último pacote apresentado pelo presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, que prevê aporte de 1 trilhão de dólares para compra de ativos considerados “tóxicos”. “Se o Obama tomou a decisão pensando no melhor para os Estados Unidos, ótimo. Espero que dê certo”, disse. “Mas acho que não podemos usar o pouco dinheiro que nos resta para comprar títulos que aqui chamamos de podres”.
Gordon Brown evitou críticas ao plano de Obama e fez comentários num tom amistoso. “É um bom sinal que, uma semana antes do G20, o governo Obama tenha se posicionado sobre os ativos tóxicos”.
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