O caso do militante anticastrista cubano Luis Posada Carriles tomou novo rumo, com o governo dos Estados Unidos a processá-lo por um crime relacionado com terrorismo, perante um tribunal federal.
O ex-agente da CIA, o serviço secreto dos Estados Unidos, foi acusado por um júri de instrução de El Paso, Texas, de não ter revelado às autoridades norte-americanas seus conhecimentos sobre uma onda de atentados contra hotéis e instalações turísticas em Havana em 1997, na qual morreu um turista italiano.
O anticastrista, de 81 anos, não é acusado de ter organizado ou participado diretamente desses atentados, mas sim de ter mentido às autoridades de imigração sobre seus conhecimentos e relações com os autores.
Em 1998, deu uma entrevista ao The New York Times em que assumiu a organização dos atentados. A confissão coincidiu com as conclusões das investigações das autoridades cubanas, que prenderam e julgaram dois salvadorenhos e um casal de hondurenhos, acusados de participar diretamente dos atentados e que implicaram Carriles.
Após a entrevista ao The New York Times, o anticastrista desmentiu-se e disse que “os jornalistas” não o entenderam bem porque ele não sabe falar inglês. A entrevista foi feita, em espanhol, por Anne Louise Bardach, uma repórter norte-americana que fala perfeitamente o idioma.
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Posada Carriles (na foto acima, de abril de 2007, do arquivo da agência EFE) é considerado terrorista pelos governos de Cuba e Venezuela por sua participação no atentado contra um avião comercial cubano em 1976, que deixou 74 mortos. Nessa época, foi julgado por um tribunal militar venezuelano, que o absolveu. Mas o governo do então presidente Carlos Andrés Pérez decidiu voltar a julgá-lo num tribunal civil. Ele fugiu de uma prisão em Caracas, enquanto esperava pelo segundo julgamento.
Basicamente, Carriles foi acusado em nível federal de perjúrio, por ter mentido a um oficial de imigração em abril de 2006, durante uma entrevista para obter a cidadania norte-americana.
Nesse momento, foi-lhe mencionado o nome de um dos salvadorenhos presos em Havana, um ex-soldado chamado Ernesto Cruz León. Segundo a ata de acusação, Carriles negou conhecê-lo e negou ter ordenado que levasse os explosivos para Cuba. Só que durante o julgamento em Havana, tanto os salvadorenhos como o casal hondurenho afirmaram que ele foi o organizador dos atentados.
Gravação em espanhol
Assim, Carriles é agora acusado de mentir, já que, baseados numa investigação feita também em Havana em 2006, as autoridades federais concluíram que ele “não só organizou os atentados como proporcionou os explosivos” e “enviou a Cuba o salvadorenho Cruz León”.
Na mesma audiência, o ativista foi confrontado com a confissão feita ao The New York Times e, uma vez mais, disse que não foi bem compreendido, por causa do idioma inglês. O júri de instrução teve oportunidade de escutar a gravação da entrevista e notar que foi feita em espanhol.
A esta acusação de perjúrio, junta-se outra, de também ter mentido à imigração sobre sua entrada em território norte-americano no ano de 2005 – Carriles disse que foi pela fronteira mexicana, mas um informante do FBI confirmou que foi por via marítima, através da ilha mexicana de Cancún. E ainda uma terceira, de “obstruir uma investigação de terrorismo internacional”.
Desde que se evadiu da prisão venezuelana, Posada Carriles viveu na América Central, onde esteve a serviço da CIA e dos exércitos salvadorenho e hondurenho, durante as guerras civis da década de 1980.
Desde então, primeiro o governo cubano e depois o venezuelano sempre acusaram Washington de protegê-lo e mantê-lo longe dos tribunais.
“As acusações são levadas ante os tribunais quando existem fatos e provas do caso. Este caso não é uma exceção. Conseguimos novas provas, pedimos a um júri de instrução que o acusasse, baseado nessas novas provas obtidas desde que foi apresentada a primeira acusação”, comentou aos jornalistas o porta-voz do Departamento da Justiça, Dean Boyd.
Por isso, quando se soube das novas acusações, tanto a agência de notícias cubana Prensa Latina como o diário oficial Granma não esconderam a surpresa.
A nova acusação “é uma mudança de estratégia surpreendente por parte da procuradoria federal”, comentaram, sem deixar de lamentar, ao mesmo tempo, que os Estados Unidos não fossem mais longe e acusassem Posada Carriles diretamente de terrorismo.
Tanto a Venezuela como Cuba pediram a extradição do militante, mas o Departamento da Justiça recusou. Na ilha, ele poderia enfrentar a pena de morte.
“É obvio que o meu cliente não está contente, e pensa declarar-se não culpado destas novas acusações”, comentou seu advogado, Arturo V. Hernández.
Italianos inconformados
O irmão de Fábio Di Celmo, o turista italiano assassinado em 1997 num hotel de Havana, também não escondeu a surpresa. “Minha família esperou 12 anos para que o governo norte-americano fizesse alguma coisa para ligar oficialmente Posada Carriles com o terrorismo internacional”, disse Livio Di Celmo, numa entrevista coletiva por telefone.
Di Celmo não explicou por que sua família nunca processou Posada Carriles num tribunal italiano, como vários procuradores norte-americanos esperavam que fizesse, durante todos estes anos.
O acusado deve agora comparecer perante uma juíza em El Paso, Texas, no próximo mês de agosto.
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