Com 22 casos confirmados e 78 mortes suspeitas, a Guiné vive uma epidemia de ebola “sem precedentes”, informou nesta segunda-feira (31/03) a organização humanitária MSF (Médicos Sem Fronteiras), que tenta controlar a febre na região. O surto já atingiu também Libéria e Serra Leoa.
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“Estamos enfrentando uma epidemia de magnitude jamais vista em termos de distribuição dos casos no território do país”, afirmou Mariano Lugli, coordenador do projeto da MSF em Conakry, capital da Guiné.
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Segundo Lugli, os médicos da organização estiveram envolvidos em quase todos os surtos recentes de ebola, a maioria deles em partes remotas de países da África central, mas, na Guiné, os casos suspeitos estão espalhados por todo o país, em regiões que ficam a mais de 100 km de distância uma da outra.
Reprodução Al Jazeera
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“Essa distribuição geográfica é preocupante, pois vai complicar muito as tarefas das organizações que trabalham para controlar a epidemia”, acrescentou Lugli. Segundo o Ministério da Saúde da Guiné, 122 casos suspeitos foram reportados no país desde janeiro, dos quais 22 foram testados em laboratório e obtiveram resultado positivo para ebola e 78 resultaram em morte.
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Esses números, entretanto, são superiores aos divulgados no domingo (30/03) pelo presidente do país, Alpha Condé, que confirmou 72 mortes e 112 casos de pacientes infectados em uma mensagem dirigida à nação, pedindo calma. “A ajuda da comunidade internacional permitiu adotar todas as medidas necessárias para conter o vírus”, indicou Condé, que ressaltou que as últimas informações trazem certo “otimismo” em relação a uma rápida solução da epidemia.
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O “otimismo”, entretanto, não faz parte da visão da MSF sobre a epidemia. O vírus identificado no país pela organização é “do tipo Zaire”, uma das cinco espécies da família dos filoviruses que causam ebola.
“A cepa Zaire do vírus ebola (…) é a mais agressiva e mortal. Ela mata mais de nove em cada 10 casos”, afirmou Michel Van Herp, epidemiologista da MSF, em comunicado publicado no site da organização. “Para parar o surto, é importante traçar a cadeia de transmissão. Todos os contatos de pacientes que possam ter sido contaminados devem ser monitorados e isolados ao primeiro sinal de infecção”, acrescentou.
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O vírus ebola, da família Filoviridae (filovírus), tem cinco espécies (Zaire, Sudão, Costa do Marfim, Bundibudjo e Reston), e se transmite por contato direto com o sangue, os fluidos ou os tecidos dos indivíduos infectados. A doença costuma ser devastadora porque, geralmente, os médicos estão entre as primeiras vítimas, o que ameaça o serviço de saúde em países com graves carências.
Segundo a OMS, o vírus está entre os mais contagiosos e mortais entre os humanos. Não existe tratamento nem vacina específica para o ebola. Geralmente, os pacientes são internados em quarentena e os familiares são impedidos de tocar os corpos dos falecidos.
Vizinhos
A Libéria reportou sete casos suspeitos e confirmados de ebola, incluindo quatro mortes, segundo a OMS (Organzação Mundial da Saúde). Serra Leoa registrou cinco casos suspeitos, mas nenhum foi confirmado ainda.
Brima Kargbo, diretor médico de Serra Leoa, informou que um processo de seleção foi implantado na fronteira com a Guiné. Segundo ele, todos os viajantes estão sendo questionados sobre o local de onde vêm e se eles ou alguém que os acompanha teve contato com uma pessoa que ficou doente.
Senegal, outro vizinho da Guiné, fechou sua fronteira terrestre no fim de semana e suspendeu feiras semanais perto da fronteira para impedir a propagação da doença. A companhia aérea local Gambia Bird atrasou o lançamento de serviços para Conakry, os quais deveriam começar no domingo (30), por causa do surto.
Se a causa de todas as mortes for confirmada como ebola, esta será a epidemia mais mortal da doença desde 2007, quando 187 pessoas morreram em Luebo, na República Democrática do Congo.