No dia 28 de junho de 1919, um tratado entre os Aliados e a Alemanha soluciona o conflito que começara em Sarajevo cinco anos antes e terminara com o armistício de Rethondes. Oito milhões de mortos haviam testemunhado o horror desta guerra sem precedentes num continente que prometera prosperidade e harmonia para o século XX.
Tratados de paz com cada um dos países vencidos encerravam a Primeira Grande Guerra. O mapa da Europa acaba completamente transformado com o desaparecimento de quatro impérios: o alemão, o austro-húngaro, o russo e o otomano.
O primeiro e o mais importante dos tratados foi assinado com a Alemanha na Galeria dos Espelhos no Palácio de Versalhes, no mesmo lugar onde foi fundado o império alemão, em 18 de janeiro de 1871.
Embora presentes altos representantes dos 27 países aliados, o Tratado de Versalhes foi redigido minuciosamente por um estreito círculo formado por somente quatro negociadores: os primeiros-ministros da Grã Bretanha, David Lloyd George; da França, Georges Clemenceau; da Itália, Vittorio Orlando, e o presidente norte-americano, Thomas Woodrow Wilson.
Mesmo diante do apoio tardio de suas tropas, o presidente Wilson se apresentou como o líder do mundo civilizado. Ao contrário dos países europeus, os EUA, com efeito, só viram crescer seu poderio econômico com a guerra, dado que, dentro desse período, a venda de armamentos aos aliados franco-britânicos cresceu astronomicamente.
Lloyd George punha seus olhos sobre as colônias alemãs e o mercado interno dos vencidos. Clemenceau visava no mínimo à recuperação da Alsácia-Lorena, anexada pela Alemanha em 1871. Queria, de resto, humilhar de todas as formas possíveis a Alemanha e destruir a Áustria-Hungria, culpada, a seu ver, de ser moderada, católica e monarquista. Vittorio Orlando, eloquente e loquaz, só desejava anexações em torno do mar Adriático em detrimento da Austria-Hungria.
Os diplomatas alemães foram mantidos à parte dos debates e da elaboração do tratado. Segundo os termos do documento, sua nação perderia um oitavo de seu território e um décimo de sua população passaria a residir em território estrangeiro. Diante disso, a Alemanha seria submetida a limitações humilhantes de soberania.
Perderia a Alsácia e a Lorena, que seriam restituídas à França, sem qualquer referendo. Diferentemente do resto da República Francesa, esses departamentos permaneceriam vinculados à Concordata de 1801, que regia as relações entre o Estado e a Igreja.
A Alemanha perdia também as cidades de Eupen e Malmédy para a Bélgica e, mais além, uma grande parte de suas províncias a leste para uma Polônia que se ressuscitava.
A Alemanha era despojada de suas colônias africanas em proveito da França, da Bélgica, do Reino Unido e da União Sul-africana. Cedia também a província chinesa de Chan-tong ao Japão, o que provocou protestos veementes de Pequim. Na fronteira oriental da nova Alemanha, o tratado dá origem a uma Polônia heterogênea, com uma forte minoria falante de alemão, ligada ao mar pelo chamado Corredor de Dantzig.
Os reinos e os principados que compunham o Império alemão e que poderiam servir de contrapeso ao autoritarismo prussiano são dissolvidos. No lugar de uma Alemanha imperial se instala um Estado democrático e republicano. Mas a República de Weimar, nome da cidade onde se reuniu a nova assembleia constituinte, teria muitas dificuldades em resistir às pressões populares.
O exército alemão seria reduzido a 100 mil soldados de ofício e a marinha de guerra a 16 mil homens. Às forças armadas seria proibido a posse de artilharia pesada, de encouraçados e de aviões de caça. Não poderiam apelar ao recrutamento.
Os Aliados previam ocupar militarmente durante 15 anos a margem esquerda do rio Reno assim como três cabeças de ponte sobre o Reno – Maiença, Colônia e Coblença. Estava previsto igualmente uma zona desmilitarizada de 50 quilômetros de largura sobre a margem direita do Reno. Nada disso ocorreu.
O governo alemão teve de reconhecer sua responsabilidade no desencadeamento da guerra, interpretação historicamente duvidosa. Exigiu-se que o ex-imperador Guilherme II, então no exílio, fosse entregue para ser julgado como criminoso de guerra, bem como outros altos oficiais.
Por fim, a Alemanha foi obrigada a arcar com pesadas reparações materiais e financeiras. O montante final seria fixado após a assinatura do tratado em 269 bilhões de marcos-ouro. O economista britânico John Keynes, que recomendava não ir além de 80 bilhões para não comprometer a reconstrução da economia alemã e o comércio internacional, se demite de sua função de conselheiro em Versalhes.
“A Alemanha pagará!” responderia mais tarde Clemenceau interpelado sobre as dificuldades de reconstrução da França. Concretamente, a incapacidade – ou a má vontade – da Alemanha de pagar as reparações estaria na origem das graves crises financeiras e políticas do conjunto da Europa. O Tratado de Versalhes seria apenas aplicado em parte, porém suscitaria um ressentimento muito agudo entre os alemães e pavimentaria o caminho para a ascensão do nazismo.
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