WikiCommons
Um vampiro-morcego mordendo um mamífero
Uma equipe de cientistas do Peru e dos Estados Unidos encontrou na região amazônica pessoas que desenvolveram uma imunidade natural à raiva em comunidades expostas aos morcegos-vampiros, informou nesta quarta-feira (01/08) a revista The American Journal of Tropical Medicine and Hygiene.
A descoberta contradiz a ideia convencional de que a infecção com hidrofobia é sempre fatal, a menos que se administre um tratamento imediato. As autoridades sanitárias recomendam, em geral, que as pessoas expostas à raiva tomem injeções preventivas que, quando se aplicam rapidamente, são 100% bem-sucedidas na prevenção da doença.
NULL
NULL
Os pesquisadores estudaram duas comunidades da Amazônia peruana (Truenococha e Santa Marta) em uma região conhecida como “o reservatório natural” da doença na América do Sul por ser um dos principais focos de infecções fatais de raiva causadas por mordidas de morcegos-vampiros. A partir de mostras de sangue de 63 pessoas, os cientistas descobriram que 7 delas (11%) mostraram evidências de anticorpos contra a doença. Entre elas, apenas uma pessoa informou que tinha sido vacinada previamente.
“Na grande maioria, os casos de raiva que evoluem para infecções clínicas são fatais”, indicou Amy Gilbert, do Centro Nacional de Doenças Infecciosas Emergentes e Zoonóticas do CDC (Centros para o Controle e a Prevenção de Doenças dos EUA, sigla em inglês). “Isso significa que poderiam ser desenvolvidos tratamentos eficazes que ajudassem a salvar vidas em áreas onde a raiva persiste como causa de morte”, acrescentou.
Os especialistas reconheceram que não podiam determinar de forma conclusiva como os anticorpos se originaram, mas acrescentaram que sua evidência “sugere que a exposição (ao vírus da raiva) não é invariavelmente letal para os humanos”.
Estima-se que a raiva mate 55 mil pessoas ao ano apenas na África e na Ásia. Além disso, a incidência da doença parece estar em crescimento na China, nos países da ex-União Soviética, no sul da África, na Américas Central e na América do Sul. Segundo os CDC, nos Estados Unidos, as mortes humanas por raiva diminuíram ao longo do último século de 100 para uma média de 2 por ano, graças a uma agressiva campanha de vacinação de animais domésticos contra a doença.
Na região amazônica onde aconteceu o estudo, os morcegos-vampiros, que vivem do sangue dos mamíferos, saem à noite regularmente em busca de alimentos. Conhecidos como “draculin”, estes animais utilizam seus dentes extremamente afiados e o anticoagulante presente naturalmente em sua saliva para se alimentar das pessoas enquanto dormem, sem despertá-las. Se um morcego infectado pela raiva morde um humano, passa o vírus a sua presa.