Uma troca de mensagens eletrônicas entre altos membros do governo sírio vazada pelo site Wikileaks aborda um plano para desestabilizar a Jordânia e combater ações de vizinhos rivais. Chamados de “fascistas”, esses países, eram acusados de apoiar o movimento insurgente local. Os interlocutores da mensagem, datada de junho de 2011, não foram identificados. As informações são do site espanhol Público.
As críticas principais se concentram no rei Abdullah II, monarca da Jordânia, acusado de contribuir com o serviço secreto britânico para desestabilizar o regime do presidente Bashar Al Assad através do incentivo de revoltas populares. Em junho, as atenções na região estavam voltadas para a guerra civil na Líbia, e a Síria ainda não se encontrava no atual estágio de confronto armado. Portanto, as manifestações populares nas ruas ainda eram comuns.
“A Jordânia é o principal inimigo dos palestinos e dos árabes, é um inimigo pior do que Israel, e é a base de apoio com face árabe dos israelenses”, diz o documento. A Jordânia, junto com outros países como Arábia Saudita, França e Israel, além da CIA (agência de inteligência norte-americana), “estão investindo milhões de dólares para acabar com Al Assad e o Irã”.
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O presidente dos EUA, Barack Obama (dir.)em reunião com o rei Abdullah II da Jordânia
O despacho pede para que agentes sírios na Jordânia ajam para mobilizar e unir os beduínos locais, sindicatos e movimentos estudantis contra a monarquia e “expulsem o regime fascista” do país vizinho. O texto afirma que a Embaixada do Reino Unido em Amã, capital jordaniana, é um ”ninho de espiões” e que o rei estaria trabalhando com os agentes britânicos.
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A Jordânia sempre manteve uma postura crítica em relação à Síria mesmo antes das revoltas, e há muitos anos é considerada uma aliada de Estados Unidos e Israel, desde o regime do rei Hussein, pai de Abdullah.
Ainda no documento, as autoridades afirmam que a Síria deveria formar um exército paralelo com os palestinos refugiados e com o grupo armado Hezbollah para combater a Jordânia e outros regimes fascistas no Oriente Médio. Embora não mencione quem são os outros rivais regionais, trata-se de uma clara menção à Arábia Saudita e o Catar, que além de estarem mais alinhados com as potências ocidentais, “apóiam os rebeldes com dinheiro, fornecimento de armas e apoio midiático”, diz o documento.
A queda de Abdullah seria necessária, segundo os dirigentes sírios, para atingir Israel e recuperar as colinas de Golã, tomadas pelos israelenses na Guerra dos Seis Dias e onde residem atualmente cerca de 20 mil colonos judeus.
Interferência
O e-mail sugere que outro país implicado nas revoltas é a França, país com o qual a Síria manteve relações conturbadas durante o governo do conservador Nicolas Sarkozy.
O texto denuncia que as embaixadas do Reino Unido, França, Canadá e Arábia Saudita em Damasco, capital síria, e em Beirute, são ninhos de espiões (repetindo o termo) que usam homens de negócios locais para se infiltrarem em seus respectivos governos.
O despacho recomenda prender, confiscar os negócios e contas de todos os executivos que estejam contribuindo com os insurgentes até que eles confessem sua participação e reais intenções.
Também denuncia que os serviços secretos da Arábia Saudita e Jordânia “estão recrutando dezenas de milhares de fascistas iranianos, traficantes de drogas e viciados, que estão aos milhões no país persa” para combater os regimes de Damasco e Irã.
Por fim, o documento menciona em seu final a existência de um acordo com o Irã no qual o país persa defenderia militarmente a Síria em caso de uma invasão por parte de países ocidentais ou Israel.