Atualizada às 18:31
Jornalistas e intelectuais latino-americanos criticaram o anúncio de que a Argentina vai se retirar da sociedade da emissora multiestatal TeleSUR, divulgado neste domingo (27/03), apontando “censura” por parte do governo de Mauricio Macri, que pretende se desvincular da rede criada em 2005 pelo então presidente venezuelano Hugo Chávez. A Associação das Mães da Praça de Maio também se pronunciou a respeito.
“É uma censura aberta à informação de vários países latino-americanos que integram a TeleSUR. Não há outra explicação”, disse o ativista argentino Adolfo Pérez Esquivel, Nobel da Paz em 1980 e integrante do Conselho Assessor da TeleSUR, em entrevista nesta segunda-feira (28/03) ao programa “Siempre es Hoy”, da Rádio Del Plata.
Marcello Casal Jr / Agência Brasil
O ativista e Prêmio Nobel da Paz argentino Adolfo Pérez Esquivel em palestra no 3o Fórum Social Mundial no Brasil em 2003
Esquivel afirmou que a TeleSUR ocupa um espaço importante na Argentina, na medida em que cobre temas que não são abordados por outras emissoras. “Aqui há muitas restrições informativas, fundamentalmente nos canais de televisão”. A saída da TeleSUR, para ele, mostra que “os espaços de informação ficam mais restritos”.
No domingo, Esquivel já havia manifestado seu repúdio à decisão em sua conta no Twitter.
Soy parte del Consejo Asesor de .@teleSURtv y repudio decisión de .@herlombardi de censurar disidencia en #Argentina https://t.co/1M2BIBEwhi
— AdolfoPérez Esquivel (@PrensaPEsquivel) 28 de março de 2016
O cientista político argentino Atílio Boron considerou a decisão “outro ataque do macrismo à liberdade de expressão”. Segundo ele, “do jeito que vamos, em pouco tempo neste país não vai ficar nem uma voz ou imagem alternativa. Somente a dos amigos/cúmplices de Macri”.
Al paso que vamos, en poco tiempo en este país no va a quedar ni una voz ni una imagen alternativa. Sólo la de los amigos/cómplices de Macri
— Atilio Boron (@atilioboron) 27 de março de 2016
NULL
NULL
Também no Twitter, o filósofo mexicano Fernando Buen Abad Domínguez comentou: “Sair da TeleSUR não é somente uma conduta grosseira antidiplomática. É uma agressão ao direito de informação crítica do povo argentino”. Acrescentou que “algo magnífico a TeleSUR está fazendo para os povos para que tantas oligarquias queiram emudecê-la”.
Salir de telesur no sólo es una conducta grosera anti diplomática. Es una agresión al derecho de información crítica del pueblo argentino.
— Fernando Buen Abad D (@FBuenAbad) 27 de março de 2016
Telesur
Criada em 2005, TeleSUR tem como acionistas os Estados da Venezuela, Cuba, Equador, Bolívia, Nicarágua e Uruguai
Ao jornal argentino La Nación, o ministro de Meios e Conteúdos Públicos, Hernán Lombardi, justificou a decisão como “falta de ingerência” sobre a emissora. “Nosso país não tinha nenhuma ingerência nos conteúdos nem em seu gerenciamento. Esta determinação está em linha com o que temos proposto para os meios públicos em termos de pluralismo e austeridade”, declarou o ministro.
Com a saída e desvinculação da Argentina, a TeleSUR deixaria de ser emitida na plataforma digital aberta do país, que atende 80% da população, e também deixaria de ser incluída obrigatoriamente nas redes de TV a cabo.
A adesão da Argentina à TeleSUR deu-se a partir de um convênio de cooperação firmado com a Venezuela em janeiro de 2005, entre os governos dos então presidentes argentino, Néstor Kirchner, e venezuelano, Hugo Chávez. Passados os cinco primeiros anos da assinatura do convênio, sua renovação é automática, a menos que uma das partes comunique sua decisão de desligar-se. A desvinculação efetiva ocorre seis meses depois da apresentação de notificação.
A TeleSUR afirmou que “estuda resposta formal” ao anúncio de saída da Argentina da rede. Segundo nota, a empresa multiestatal “busca confirmação das fontes citadas por La Nación, devido a não ser costume de nossos meios replicar informação sem verificação prévia”.
Em texto divulgado nesta segunda-feira (28/03), a emissora afirmou que “as razões apresentadas por Hernán Lombardi contradizem a censura que o presidente Mauricio Macri leva adiante contra meios de comunicação e programas argentinos que são críticos ao seu governo”.