Após não conseguir aprovar o orçamento deste e do próximo ano, o Parlamento de Israel foi dissolvido automaticamente na madrugada desta quarta-feira (23/12).
Com isso, o país terá uma quarta eleição em dois anos para formar um novo governo, em pleito já marcado para 23 de março de 2021.
A briga ocorreu entre o Gabinete do primeiro-ministro, Benjamin Netanyahu, e outros partidos de base, como o Branco e Azul de Benny Gantz. O acordo era de que os orçamentos de 2020 e 2021 seriam votados como um único documento, mas o Gabinete mudou de ideia e queria aprovar dois orçamentos.
Os parlamentares do Knesset também rejeitaram uma prorrogação das negociações até 5 de janeiro.
Com isso, a “o governo de emergência nacional” formado em 17 de maio pelo premiê Netanyahu, e sua sigla Likud, e por seu rival, e atual ministro de Defesa, Gantz, fracassou. Os dois opositores haviam concordado, após longas negociações, fazer uma coalizão para que Israel tivesse um governo formado durante a crise causada pela pandemia de coronavírus Sars-CoV-2.
No entanto, a parceria nunca deu certo plenamente e foi marcada por inúmeras desconfianças entre Netanyahu e Gantz, sendo que pelo acordo, o último deveria virar o primeiro-ministro em novembro do ano que vem.
Além da atual briga sobre o orçamento, uma recente visita secreta do premiê ao príncipe saudita Mohammed bin Salman, negada por Netanyahu, causou um mal estar generalizado no partido Branco e Azul porque nem Gantz, nem o ministro das Relações Exteriores, Gabi Ashkenazi, da mesma sigla, souberam da viagem.
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Governo de Netanyahu (esq.) e Gantz fracassa e Israel terá novas eleições
Também estava em tramitação uma moção de desconfiança, com amplo apoio até de partidos governistas, contra Netanyahu. Mas ela não foi necessária para dissolver a Knesset. Outro ponto citado pela mídia israelense aponta que o premiê quis causar a atual crise para impedir que Gantz assumisse seu posto em novembro – já que ele conta com a imunidade do cargo em diversas investigações sobre corrupção.
Cenário eleitoral
Uma pesquisa eleitoral realizada pela TV Kan já nesta quarta-feira mostra um cenário “caótico” para as eleições de 2021, assim como ocorreu nas últimas três. A fragmentação dos votos entre os partidos de direita deve ser ainda maior, trazendo um cenário de total incerteza.
O Likud de Netanyahu teria apenas 28 assentos no Parlamento (atualmente tem 36) e veria uma nova sigla de direita, Nova Esperança, liderada por Gideon Saar, ter 20 postos. Depois, a sigla ultranacionalista religiosa Yamina teria 15 assentos, seguida pelos centristas do Yair Lapid com 13. A Lista Árabe Unida teria 11, a sigla religiosa Shas teria 8 e a Torá Unida teria 7. O Branco e Azul de Gantz teria uma queda significativa, ficando com apenas 6 assentos – após ter obtido 33 vagas na última disputa -, a mesma quantidade do ultranacionalista não religioso Yisrael Beiteinu, do ex-ministro Avigdor Lieberman, e do Partido Trabalhista.
Quando citado por nomes, Netanyahu tem apenas 39% dos votos, dentro da margem de erro da pesquisa na comparação com Saar (36%). Já Gantz é visto como opção por uma minoria, mostrando a perda gigante de capital político ao aceitar fazer o governo com Netanyahu. Porém, 43% dos israelenses entrevistados consideram o atual premiê como responsável pela crise política.