Centenas de pessoas se reuniram nesta quarta (31/3) na Praça Lubyanka, em Moscou, para homenagear as vítimas dos atentados de segunda-feira. A segurança foi reforçada nos arredores da estação e a participação no evento exigia uma certa dose de paciência. Detectores de metal e cães controlavam cada pessoa que chegava à praça. Composições de Tchaikovsky criavam o clima para o último adeus.
A grande quantidade de jovens no evento chamava a atenção. Eram membros do movimento Molodaya Gvardiya (“Jovem Guarda”), uma ala do partido Rússia Unida, do primeiro-ministro Vladimir Putin. Aparentando na média entre 16 e 26 anos e munidos de um discurso patriótico e de lealdade ao líder, os jovens distribuíam camisetas e bonés a quem passava.
Sandro Fernandes
“Queremos mostrar para o mundo que os jovens também estão interessados em política e que querem participar das decisões”, explicou Sofia Nikodimova, prestes a completar 18 anos. Perguntada pela razão de estar participando da homenagem, limitou-se a dizer: “Estou em choque e impressionada com o que vi. Não podia ficar em casa”. De longe, provavelmente pensando que não fosse ser compreendido pela equipe do Opera Mundi, um dos coordenadores advertiu: “Sofia, cuidado com o que você diz. Eles são jornalistas”.
Coordenador de um dos grupos da Jovem Guarda, Nikita Schulukin, explicava com voz mansa as ideias do grupo. “O país está muito melhor desde que Putin chegou ao poder. Todos sonhamos com um bom trabalho, uma família, um carro, estabilidade. Putin faz com que estes sonhos sejam possíveis. Queremos uma Rússia forte”, discursou o jovem russo.
O culto à personalidade de Putin parece estar na ordem do dia. Por outro lado, em momento algum o presidente Medvedev foi citado.
Sandro Fernandes
O jovem Nikita Schulukin, líder da Jovem Guarda
“A oposição costuma dizer que eles não conseguem autorização para fazer manifestações. Pura mentira. O que eles não conseguem é gente suficiente para encher uma praça como esta”, completou Schulukin.
O sentimento de pertencimento a um grande projeto era evidente durante a conversa com os jovens. Cada um tinha uma função e se sentia importante desempenhando sua atividade. Com várias subdivisões, era difícil falar com alguém que não fosse presidente ou vice-presidente de algum setor dentro do movimento. “Se você está com o Rússia Unida, você está protegido. É como estar em casa”, declarou Misha Volkov, um dos três jovens que se apresentaram como “vice-presidentes”.
Pena de morte
Depois dos atentados, o chefe da comissão de Justiça e Assuntos Legais do Senado russo, Anatoli Liskov, anunciou que estudaria a imposição da pena de morte para terroristas. No entanto, o presidente do Senado, Serguei Mironov, assegurou hoje que o assunto não será debatido. “Que os terroristas apodreçam na cadeia e tenham uma morte horrível”, pregou Mironov, segundo agências de notícias russas.
A Igreja Ortodoxa, os ativistas de direitos humanos e os partidos liberais defendem a abolição defitiva da pena capital. Outros analistas consideram que o retorno à pena de morte representaria um retrocesso nas relações da Rússia com o Ocidente.
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Cada vez que ocorre um atentado na Rússia, a pena de morte volta a ser debate público. Segundo uma pesquisa difundida na terça-feira pelo Centro de Estudos da Opinião Pública da Rússia (Vtsiom), 44% da população são a favor da pena capital, enquanto apenas 18% acreditam que ela deve ser abolida completamente do código penal.
Segundo o artigo 205 do código penal russo, a prisão perpétua pode ser aplicada aos terroristas. No entanto, em 1996 foi decretada uma moratória nessa punição pelo então presidente Boris Iéltsin, como uma condição imposta pelo Conselho da Europa para aceitar a Rússia como membro do grupo.
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