O soldado israelense Gilad Shalit retornou ao país de origem nesta terça-feira (18/10), após mais de cinco anos de sequestro. O retorno do jovem, de 25 anos, trocado por 1.027 palestinos presos, faz parte de um acordo entre Tel Aviv e o Hamas. Durante o tempo em que Shalit esteve preso, o governo de Ehud Olmert deu lugar ao do conservador Benjamin Netanyahu e a política de Israel contra os palestinos endureceu.
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O soldado foi capturado em 25 de junho de 2006 pelo Hamas. Nesta época, Israel já contava com cinco meses do mandado de Olment, membro do partido Kadima, considerado centrista e moderado. Em junho de 2008, uma trégua entre representantes do Hamas e do governo de Israel sinalizou uma arrefecimento do conflito. No entanto, o cessar-fogo terminou no dia 19 de dezembro e os palestinos decidiram não estendê-lo, alegando que Israel não havia cumprido seu compromisso de suspender o bloqueio à Faixa de Gaza.
Dias depois Israel promoveu o ataque mais violento contra os palestinos desde a Guerra dos Seis Dias (1967). A “Operação Chumbo Fundido” foi uma ofensiva militar que durou três semanas e causou a morte de 1.314 palestinos e israelenses. Pelo menos metade era civil, sendo que outras cinco mil pessoas ficaram feridas ou mutiladas do confronto na Faixa de Gaza, em território palestino. Entidades como a Cruz Vermelha e a ONU (organização das Nações Unidas) acusaram Israel de cometer crimes de guerra e contra a humanidade por conta da investida sobre o território palestino.
Repressão mais intensa
O aumento na repressão israelense durante os últimos anos pode ser observado, principalmente, no tratamento dispensado às crianças. Segundo a ONG Addameer (Organização de Apoio a Prisioneiros Palestinos), atualmente 370 crianças e adolescentes palestinos estão detidos em presídios israelenses. Desde a Segunda Intifada em 2000, no entanto, 2,5 mil já foram detidas.
Após certa pressão internacional para que parasse com as detenções, Israel criou em 2009 as Cortes Juvenis Israelenses nos Territórios Ocupados da Palestina. As crianças, acusadas principalmente por arremessar pedras, são julgadas pelas cortes e podem ser condenadas à prisão.
“Depois da Operação Chumbo Fundido, houve muita pressão para levar Israel às Cortes Internacionais. Assim, Israel pode dizer: ‘mas, veja, nós fizemos as Cortes Juvenis’. O problema é que há uma Corte Juvenil, mas não há uma lei juvenil que possa ser aplicada”, denuncia a advogada Neomi Lalo, do No Legal Frontiers (NLF), organização de advogados criada em 2009 para analisar o trabalho das cortes.
Dados divulgados pela Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância), revelam que o número de crianças palestinas que sofreram lesões ou foram assassinadas cresceu durante este ano. Os meses de maio e junho registraram os índices mais altos de agressões, desde que as ações israelenses foram intensificadas na região, em 2009 e 2010.
Em janeiro, 18 crianças palestinas tiveram lesões decorrentes de agressões. Em maio, esse número aumentou para 109. Já em março, quatro crianças foram mortas. Em Israel, no entanto, os números são bem mais baixos. O país registrou, no entanto, três crianças mortas em março e uma em abril. De janeiro a junho deste ano, entretanto, o país não registrou outros casos de agressão a crianças e adolescentes.
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A vez de Netanyahu
Olmert deixou o cargo poucos meses após a ofensiva contra os palestinos. Em seu lugar, assumiu o chefe do partido conservador Likud, Benjamin Netanyahu, que congelou as negociações com os palestinos. No último mês de setembro, o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, chegou a afirmar que Netanyahu matou o processo de paz entre as partes.
Diante da paralisação no processo, o presidente da ANP (Autoridade Nacional Palestina), Mahmoud Abbas, entrou com um pedido de reconhecimento da Palestina como Membro Pleno das Nações Unidas. A requisição ainda está em processo de análise pelo Conselho de Segurança da entidade, mas tudo indica que deverá ser vetado pelos Estados Unidos.
O acordo, que resultou na libertação do soldado israelense e das centenas de palestinos nesta terça, é considerado por alguns como uma tentativa de enfraquecer Abbas, limitando a força de seu pedido pelo reconhecimento do Estado palestino.
“O acordo é resultado de um alinhamento de interesses entre o Hamas e o governo de Benjamin Netanyahu. Ambos se beneficiam com esse revés para Abbas”, avalia o escritor e analista político Youssef Munayyer, diretor do Palestine Center, em Washington, em entrevista ao Opera Mundi.
“O Hamas se beneficia por poder exibir um feito concreto obtido com uma estratégia de resistência, em contraste com os feitos simbólicos de Abbas conseguidos com uma estratégia de diplomacia. Ao mesmo tempo, o governo Netanyahu envia um alerta a Abbas de que haverá custos ao abandonar o jogo do processo de paz”, conclui.
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